A artista trabalha com cores puras, jogando sobre as justaposições de áreas coloridas cores quentes e frias, criando um contraste que resulta em composições marcantes. O desenho que, às vezes, aparece como está no fundo branco, nu, é apenas um meio para justificar a harmonia entre as linhas. E a cor, por sua vez, é um meio de destacar o desenho. Fundo e sujeito, executados no mesmo plano, chamam a atenção e convidam a uma viagem tridimensional. Maria Lynch nos leva para o ritmo das ressonâncias que querem modificar os estados psíquicos do espectador, com uma habilidade muito particular, pois a faz com uma grande economia de meios. Na exposição apresentada na galeria Baró, que contém seus trabalhos de 2018 e 2019, as figuras humanas desapareceram. O espectador não possui a certeza para reconhecer as formas, os objetos abstratos flutuam em um espaço indeterminado. Estamos perto de algo identificável, mas nunca encontramos realmente uma chave. Esta última série invoca a pintura “Talismã”, obra-prima e de referência de Paul Sérusier, a qual pintou no Bois d’Amour em Pont-Aven, em 1888, sob a supervisão de Gauguin.
Embora Maria Lynch pinte e jogue com uma paleta ampla de diferentes abordagens artísticas, ela entendeu perfeitamente a lição e sabe como lidar com suas cores puras. Seu trabalho é uma ode à pintura das gerações que, muitas vezes, pensavam que tudo havia sido dito sobre o tema. Para continuar com o “Talismã”, a conselho de Gauguin, o jovem Sérusier foi convidado a pintar o que sentia e não o que via, a ir ao mistério do centro do pensamento. Como ele, Maria Lynch apresenta uma obra que não é inteiramente liberada da representação, mas que a sublima.
Suas paisagens são singulares. Nem heróicas, nem bucólicas. Uma paisagem pitoresca, que sonda as camadas geológicas, realça o horizonte à maneira dos desenhos infantis até o afogar; até confundir alto e baixo, horizontal e vertical, terra e carne, a natureza e suas criaturas. Pode-se ler as obras como uma explosão cromática de uma vida, mas também como a ilustração da calma da memória de um lugar da infância. Também expressa uma necessidade de abstração em um mundo que está cada vez mais confuso.
Um talismã é um objeto que tem sinais consagrados, aos quais são atribuídas virtudes de proteção e de poder. Para alguns, o talismã mantém sua força a partir das imagens que carrega. Forças astrológicas, invocações e encantamentos em um turbilhão de cores e imagens para interpretar, esta nova série de obras de Maria Lynch é um terreno fértil de reflexões para o espectador.
Texto por Marc Pottier