As fotografias de James Casebere (1953), produzidas através de ambientes construídos por maquetes e fotografadas num contraste de luz e sombra drástico, evocam emoções ambíguas e surpreendentes. Despojadas de figura humana e inspiradas em ambientes surreais de espaços de clausura, introspecção e melancolia, as fotografias de Casebere estão intimamente relacionadas com questões da esfera arquitectura e da insubstancialidade humana.
Roberto Juarez. Então em vez de Deus, existe uma coisa que li, que é mais influente para si: O espaço como Deus.
James Casebere. Sim, isso é verdade.
RJ. Vê, está de volta à fé.
JC. Mas isso foi uma crítica sobre a forma como os modernistas se relacionavam com o espaço. Venturi usou esse termo para falar do Modernismo, porque sentiu que o espaço era tratado como Deus. Foi sacrossanto, enquanto queria lidar com a arquitectura como imagem, como um sistema de sinais.
RJ. Considera-se mais Moderno do que Pós-moderno?
JC. Agora sim. Confundo ligeiramente o assunto com o “Monticello” e o “pink hallway”. Mas de qualquer forma, sim. Passei um período em que pensava no sistema de sinais ao invés de espaço e luz. Mas estou interessado nos dois, neste momento. Não no Pós-modernismo per se, mas em alguns assuntos envolvidos. Lugar (Espaço), tempo, bem como….
RJ. Forma.
(Casebere, James e Juarez, Roberto, 2001. BOMB 77, Interview James Casebere by Roberto Juarez, “The Frances Dittmer Series on Contemporary Art”) [tradução livre]
Da clausura dos panópticos á solidão dos espaços domésticos de Luis Barragán
Nos anos 90, James Casebere constrói as suas primeiras maquetes sobre o tema dos panópticos, hospícios e outros espaços inóspitos e fotografa-os. Os espaços imaginários que Casebere constrói, neste seu conjunto de trabalhos, evocam os nossos medos e emoções mais profundas através da construção de espaços isolados e despojados de humanidade.
Depois de aproximadamente duas décadas, após o fim desse seu conjunto de trabalhos, já em 2017, Casebere aproxima-se dos espaços domésticos, do uso da cor e das atmosferas criadas pela arquitectura de Luís Barragán (1902-1988). Se nos interiores dos panóticos e hospícios as emoções de clausura e a solidão eram declaradamente transmitidas de forma dramática e pesarosa, neste novo conjunto de imagens baseadas no trabalho de Luís Barragán e Mathias Goéritz, designada de “arquitectura emocional", são transmitidas essas mesmas emoções, mas numa atmosfera melancólica de contemplação e felicidade.
“Arquitectura emocional” foi cunhada, em 1953 pelo seu impulsionador, o escultor e pintor Mathias Goeritz (1915-1990) a propósito do seu edifício do museu experimental El Eco, localizado na Cidade do México e por Luís Barragán, através de um manifesto escrito. “Arquitectura emocional” tornou-se o centro da base teórica e estética da obra de ambos, apelando à necessidade de contemplação dos espaços arquitectónicos, que contenham emoção em oposição ao funcionalismo do modernismo.
As cores e as texturas também são parte dos princípios desta arquitectura que se eternizou na escultura urbana Torres de Satélite, em 1957 na cidade de Naucalpan no México, dos autores Barrágan, Reyes Ferreira (1880-1977) e Goeritz e na casa Pancho Gilardi projectada por Barragán, em 1976 na cidade de San Miguel de Chapultepec no México, e que é a base principal deste mais recente conjunto de trabalhos de Casebere.
Esta mais recente exposição de trabalhos de James Casebere, intitulada de “Arquitectura emocional”, patente de 27 de Janeiro a 11 de Março de 2017 na galeria Sean Kelly em Nova Iorque, nos Estados Unidos da América, retoma a matéria do espaço arquitectónico e da fenomenologia do lugar. Desta serie de fotografias sobre a “Arquitectura emocional”, que fazem parte da maior exposição a solo de Casebere, podemos destacar a ligação imediata com o pátio e o corredor amarelo de acesso à piscina da casa Gilardi, que se apresentam ambos como espaços de contemplação da natureza e da espiritualidade humana, e que transpõem essas mesmas emoções da realidade para os espaços imaginários das fotografias de Casebere.
A ligação das obras de James Casebere, ao longo da sua carreira, é inegavelmente sustentada nas emoções percepcionadas pelo ser humano através dos espaços arquitectónicos. Na verdade, não existe emoção em nós sem que esta esteja intimamente ligada a um Lugar, como também não existem lugares que não contenham emoções humanas em si mesmos.