Para fechar o calendário de 2016, a Galeria Raquel Arnaud apresenta “Carlos Zilio 1973/1977”. A mostra reúne cerca de vinte trabalhos realizados pelo artista em um dos períodos mais obscuros na história do país. Participante das principais exposições brasileiras da década de 1960, entre elas "Opinião 66" e "Nova Objetividade Brasileira", ambas no Mam-Rj, Zilio deixou a arte para se dedicar à luta armada, até ser preso, em 1970, e passar dois anos encarcerado. Ao sair da cadeia, o artista retoma sua produção com uma outra perspectiva. “Seus trabalhos, a partir de então, mantêm o teor crítico, mas o enfoque muda. Tornam-se ainda mais secos. Suas instalações criam situações que se aproximam das experiências de arte conceitual”, aponta o professor de história da arte Guilherme Bueno. São justamente as obras desse período que foram selecionadas pela crítica Luisa Duarte, responsável pela curadoria da presente exposição.
“Para um Jovem de Brilhante Futuro” (1973), obra icônica de Zilio composta por uma maleta de executivo em couro, cujo interior é ocupado por fileiras de pregos pontiagudos apontados para cima, evidencia que a política não desaparecera de seus trabalhos nos anos 70. O mesmo título serve para a série de fotografias realizadas pelo artista entre 1974/2001. Destaque também para a fotografia em preto-e-branco, com o fundo escuro, em que preso no dedão do pé de um cadáver está um cartão de papel com a inscrição “Identidade ignorada” (1973/2013).
Como aponta a curadora, “Zilio realiza em meio ao ambiente de extrema tensão da época uma série de obras que evocam as complexidades do período de exceção. Mas o mais importante é notar que a produção do artista naquela época estava sim a todo o tempo dialogando com a atmosfera política vigente, mas de forma alguma se reduzia a ilustrar de modo panfletário os temas em voga. O que fica claro nas obras aqui reunidas é capacidade de Zilio instaurar uma potência poética e formal nos trabalhos, os fazendo girar em uma alta voltagem, tanto sensível, quanto inteligível. “Carlos Zilio 1973/1977”se constituiu assim em uma chance preciosa de tomarmos contato uma produção de uma artista fundamental da arte brasileira que soube, como poucos, traçar com rigor e coerência os vínculos entre vida, arte e política no Brasil”, completa.
Carlos Zilio (Rio de Janeiro, 1944). Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Estudou pintura com Iberê Camargo no Instituto de Belas Artes e formou-se em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Participou de algumas das principais exposições brasileiras da década de 1960 – Opinião 66 e Nova Objetividade Brasileira, por exemplo, ambas no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro –, e de mostras com repercussão internacional: a 9ª, 20ª e a 29ª Bienais de São Paulo (1967, 1989, 2010), a 10ª Bienal de Paris (1977), a Bienal do Mercosul (2005) e Tropicália, apresentada em Chicago, Londres, Nova York e Rio de Janeiro.
Na década de 1970 morou na França, onde se doutorou em Artes. Desde o retorno ao Brasil, em 1980, participou de inúmeras mostras coletivas e fez diversas individuais, entre as quais Arte e Política 1966-1976, nos Museus de Arte Moderna do Rio de Janeiro, de São Paulo e da Bahia (1996 e 1997), Carlos Zilio, no Centro de Arte Hélio Oiticica (Rio de Janeiro, 2000), que abrangeu sua produção dos anos 1990, e Pinturas sobre papel, no Paço Imperial (Rio de Janeiro, 2005) e na Estação Pinacoteca (São Paulo, 2006).
A mais recente coletiva que tomou parte foi a exposição Brazil Imagine no Astrup Fearnley Museet, Oslo 2013 e MAC Lyon, 2014. Suas últimas exposições individuais foram na Galeria Raquel Arnaud (São Paulo, 2014), no Museu de Arte Contemporânea do Paraná (Curitiba, 2010), no Centro Universitário Maria Antonia (São Paulo, 2010) e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (2011). Zilio foi professor na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 2008, a editora Cosac Naify publicou o livro Carlos Zilio, organizado por Paulo Venancio Filho, sobre sua produção artística. A Galeria Raquel Arnaud representa o artista desde 1997.