Anderson Silva teve tudo para se tornar um mito, uma lenda do esporte mundial. E virou, afinal de contas, o menino pobre da periferia de São Paulo, Brasil, tinha todas as chances de se tornar mais um dos milhões de adolescentes, excluídos e marginalizados pela sociedade brasileira.
Anderson entrou para a luta, descobriu que na base de chutes e braçadas poderia superar os grandes obstáculos da vida.
Ficou rico, tornou-se um astro mundial das artes marciais mistas, o UFC.
Foi referência até a última luta, no dia 31 de janeiro de 2015, quando derrotou o norte-americano Nick Diaz. Poucos dias após a conquista, o primeiro teste antidoping-surpresa, realizado no dia 9 de janeiro, apontou presençade substâncias proibidas em sua urina.
A derrota para o doping
Seus fãs jamais imaginariam que, na luta que marcaria o seu “triunfal” retorno, Anderson Silva seria pego no exame antidoping.
No primeiro teste, coletado em 9 de janeiro, foram encontrados na urina do Spider Man dois tipos de esteróides anabolizantes: “Drostanolona e Androsterona”. Ambos, responsáveis por aumento de massa muscular e, consequentemente, de força e explosão. Vale lembrar que, Silva estava afastado das competições há mais de um ano, quando quebrou a perna esquerda na revanche do título mundial dos pesos médios contra o também norte- americano Chris Weidman.
Já no exame feito no dia da luta, dia 31 de janeiro, ele também testou positivo para Drostanolona e foi flagrado por uso de dois ansiolíticos (tipos de sedativos), ambos liberados pela agência mundial antidoping, porém proibidos pela Comissão Atlética de Nevada, EUA.
Por causa desses resultados, Anderson Silva foi afastado temporariamente pelo UFC, e aguarda julgamento com data a ser definida.
A arma da covardia
Para a maioria dos atletas que vivem do esporte de alto-rendimento, a tentação é grande. Existem pressões das equipes, técnicos, patrocinadores, entidades, enfim, a cobrança por resultados é cada vez maior, cada vez mais insana.
No Brasil é fácil encontrar ídolos e anônimos do esporte sendo pegos em exames, mesmo com a falta de um laboratório credenciado junto à Agência Mundial Antidoping.
Por aqui faltam investimento e interesse das entidades e autoridades, e sobra espaço para as quadrilhas venderem produtos proibidos. Isso se vê nas piscinas, nas pistas e nas estradas onde os traficantes de anabolizantes e estimulantes fazem seus comércios clandestinos e ganham muito dinheiro em cima de atletas bem ou mal informados.
Para se ter uma ideia, a Eritropoietina “EPO”, que aumenta a resistência dos atletas em provas de longa distância, é facilmente comprada na maioria das farmácias brasileiras, sem receita médica.
Minha experiência com doping
Sou jornalista há 25 anos, mas faço esporte desde os 5 anos de idade quando minha mãe me colocou no judô. Hoje, aos 46, sou faixa preta e realizo meus treinos (não para competição) com o Mestre Chiaki Ishii, o primeiro medalhista olímpico do judô brasileiro, em Munique, 1972.
Portanto, além de tantos anos como profissional do jornalismo esportivo, também pratico esporte. Já vi e reportei várias matérias para o canal de televisão ESPN do Brasil sobre o assunto.
Mas a minha experiência com anabolizante aconteceu quando tinha uns 15 anos, na metade dos anos oitenta. Na época fazia, além do judô, fisiculturismo.
Certo dia eu perguntei a um técnico, que não deve estar mais vivo, pois era "gigante" de tanto tomar anabolizante, como eu poderia levantar mais que 90 quilos de supino. Logo, ele me disse para tomar umas injeções de um tal de “Deca-Durabolin”. Tomei umas seis aplicações, e depois de um mês estava levantando 120 quilos de supino e derrubando quase todos os adversários no judô. Por meses me senti um incrível Hulk. Só depois, pesquisando, descobri que eram injeções com altíssimo poder de desenvolver massa muscular, altíssimo nível de testosterona, muitas vezes recomendadas para aplicações em cavalos.
Resultado: tive um pequeno problema na próstata e temo até hoje adquirir um câncer no fígado ou nos testículos.
Faço o relato porque sei do que é capaz um adolescente (imbecil, como eu fui) ser inconsequente a fim de ganhar músculo, força, vencer os oponentes e chamar a atenção das meninas a qualquer custo.
Agora, no caso de Anderson Silva, o buraco é mais embaixo, ou melhor, mais em cima, pois, por trás de um ídolo mundial, há muito dinheiro, mídia e interesses que não acabam mais.
Só para não cair no esquecimento, Nick Diaz, o último adversário do Spider brasileiro também testou positivo no exame antidoping, mas para maconha.
Se Anderson “teria” usado esteróides anabolizantes para se fortalecer, seu adversário” teria” fumado Cannabis pra quê ? Para ficar lento ou dar risadas aos olhos de milhões de pessoas no mundo inteiro?
Existem muitas perguntas sem respostas. Que Anderson Silva não seja mais uma mentira como foi o ídolo máximo do ciclismo, o desmascarado, Lance Armstrong. E que sejam feitas as faxinas nos octógonos, pistas, piscinas, estradas, academias e arenas do esporte e da vida. Afinal de contas, droga e doping não têm nada a ver com super-heróis.