A Galeria Filomena Soares tem o prazer de apresentar a exposição intitulada Desenho, da artista Helena Almeida (Lisboa, 1934). A exposição, que inaugura no dia 4 de Dezembro, estará patente até ao dia 7 de Março de 2015.
“Desenho”, Helena Almeida
Poderá estranhar o visitante ao encontrar trabalhos de fotografia numa exposição intitulada “Desenho”. No entanto, os trabalhos de Helena Almeida convocam-nos muitas vezes para um certo segredo, um sentimento que surge, naturalmente, quando se olha para um trabalho ensaiado, coreografado, em que um corpo experimenta as suas posições dentro de um determinado espaço, perante a lente e o enquadramento da fotografia. Esse mistério, ainda que nunca totalmente revelado pois é o espectador que o transporta consigo no contacto com a obra, vê, neste título, a verbalização da sua origem ou o primeiro contacto do artista com a matéria que o permite exprimir-se.
A origem do trabalho de Helena Almeida é, precisamente, essa: um desenho que, pelo seu traço ensaiado numa folha de papel, responde ao desejo da artista criar, bem como, ao desejo de responder ao impulso de se exprimir por imagens, sem palavras ou através de um traço físico que traga, também, consigo a imaterialidade da expressão artística.
Com o mundo dentro de um cenário ou, arriscamos, de uma condição, a artista reproduz, depois do desenho, em coreografia, o gesto de (re)colocar o seu primeiro modo de expressão, agora, em fotografia. Vemos, então, um corpo que reage ao desejo de viver, perante a consciência de que a vida termina; um corpo que responde ao espaço onde ele trabalha, perante o desejo de também se libertar dele; um corpo que se pergunta, no seu resultado final – a fotografia – de que maneiras dispõe para se poder amar a si próprio e ao outro: quem lhe tira a fotografia, quem olha para ela, quem a transporta consigo, no seu íntimo, para além do espaço do atelier, da exposição e do próprio enquadramento físico da imagem.
Respondendo a um impulso ou a uma condição, o “Desenho” resulta sempre num traço livre e será, por isso, demasiado restritivo reagir aos trabalhos de Helena Almeida apenas pelas condições às quais estes respondem: a consciência de um limite para a representação de um corpo e dos seus impulsos; o enquadramento necessário ao olhar daquele que o vê; ou a existência de um género e de como este poderá definir o seu trabalho (ou a sua vida), apesar de também o fazer.
Estes mesmos trabalhos, embora nos falem daquilo que também, positivamente, nos prende, falam-nos de um convite à libertação, falam-nos da consciência de que o nosso olhar, no contacto com o outro, é uma via verdadeira para poder sentir, desejar e para encontrarmos uma expressão física que vá ao encontro de uma expressão imaterial. A expressão dos nossos segredos, da nossa intimidade, ou da correspondência que buscamos quando olhamos para a imagem de alguém que nos fala ou para o corpo de alguém que nos procura, e como, também, olhamos para este corpo agora. E, por aí, sermos desejo e movimento; presença e liberdade.
Francisco Valente, 2014