Embora tenha construído minha carreira no ambiente acadêmico, na História, a maternidade e as minhas experiências na educação me aproximaram da área em que hoje também trabalho, a psicopedagogia clínica. É com um tanto de paixão e esperança que encaro essa área, embora compreenda que se trata de um campo em construção e, visivelmente, em disputa na atualidade.

Para além de um espaço focado em testes e que busca subsidiar diagnósticos, como infelizmente muitos profissionais propagandeiam por aí, a psicopedagogia é o espaço de reconexão dos seres com suas maneiras de aprender. Foi isso que me encantou e é a partir daí que sigo: mais que trabalhar habilidades, a psicopedagogia precisa ser o local de encontro entre aprender e prazer, de estímulo de autoria e de autoestima, de pensar estratégias que façam sentido: de recondução de uma relação com a aprendizagem que muitas vezes está recheada de marcas dolorosas e sintomas.

No contexto da promoção da saúde da aprendizagem, os jogos e brincadeiras emergem como ferramentas fundamentais na abordagem psicopedagógica. Longe de serem apenas atividades recreativas, o jogo e a brincadeira são espaços privilegiados para o desenvolvimento integral dos sujeitos, influenciando positivamente não apenas aspectos cognitivos, mas também emocionais e sociais. Assim, compreender a importância do brincar transcende os limites das disciplinas isoladas, abrangendo diversos campos.

A atuação psicopedagógica se destaca, assim, como uma área específica, distinta tanto da pedagogia quanto da psicologia, embora compreenda elementos dessas disciplinas. Seu foco reside na compreensão das aprendizagens e no desenvolvimento de estratégias para potencializá-las, considerando a integralidade dos sujeitos aprendentes. Falamos, assim, de uma terapia da aprendizagem que amplia o olhar para o aprender enquanto elemento que ultrapassa instituições e que nos faz ser o que somos. Não podemos esquecer que, para que o aprender se torne um processo significativo, deve conter os elementos de arquitetura lúdica, como curiosidade, desafio e, principalmente, o desejo.

De fato, a relevância do brincar transcende os limites de uma única área de conhecimento, influenciando campos como psicologia, psicanálise, fisioterapia e fonoaudiologia. Winnicott, renomado psicanalista, enfatizou a importância do brincar como um espaço transicional onde a criança se desenvolve, expressa suas emoções e constrói sua identidade. O brincar, assim, permite a exploração do mundo interno e externo, contribuindo para o desenvolvimento emocional e cognitivo saudável. Não à toa, já defendi por aqui que a escola também precisa tomar para si o brincar enquanto base, assim como a psicopedagogia não deve jamais abrir mão dele.

Em um mundo que cada vez mais afasta os indivíduos de suas pulsões criativas, numa grande máquina de esmagar gente regida por todos os princípios neoliberais mais cruéis, a psicopedagogia deve trabalhar o olhar para o que é potente naquele indivíduo, o que é prazeroso: olhar também para o que transborda e não apenas para o que falta.

Não se trata de negar diagnósticos: pelo contrário, é perceber que laudos não nos dão tanto quanto muitos imaginam. Apontam alguns caminhos, mas só conseguimos compreender um ser quando olhamos para ele enquanto alguém que não é um transtorno; essa é apenas uma parte do que aquela pessoa é no mundo.

Minha intenção aqui é fortalecer a concepção de que a terapia da aprendizagem precisa ter como foco o encontro com o desejo: não pode transformar-se numa lógica de treinamento, embora obviamente, em determinados casos, precisaremos auxiliar na aquisição de certas habilidades para o bem-estar daquele indivíduo. A questão é que tal movimento deve ser complementar: o objetivo deve ser, de fato, a busca pela paixão, pela motivação, pela compreensão do que faz alguém querer aprender algo.

Que a psicopedagogia não se torne apenas um instrumento que facilite a adequação dos seres ao mundo, que seja um instrumento de transformação do olhar para este mesmo mundo, que urgentemente necessita se reinventar para além dos princípios loucos de eficácia e urgência.