É madrugada e uma sensação, da qual você não consegue saber exatamente do que se trata, se apodera da sua mente. Algo te incomoda e você quer sair dessa situação imediatamente. Você tenta se mexer, mas seu corpo não responde a nenhum estímulo. Faz um esforço para levantar, mas o corpo está pesado, como se estivesse colado à superfície na qual você se deita. Então você decide tentar falar algo, gritar que seja, mas nenhum som escapa da sua boca. A sensação de opressão toma conta do seu peito, um desespero aterrador. Você se enxerga ao pé da cama, mas, ao mesmo tempo, está deitada nela. O peito continua apertado por um peso com o qual não se consegue lidar. Você quer desesperadamente sair dali. Grita, grita, grita, mas nenhum som é emitido. Com muito esforço, consegue mexer um dedo e, mais outro, e finalmente consegue se libertar e levanta o corpo sem entender muito bem se era um sonho ou sua imaginação. Essa poderia ser a descrição de um terrível pesadelo, mas são apenas sensações causadas por um fenômeno aterrorizante chamado Paralisia do Sono.

Entre os sonhos e a realidade, existe um espaço-tempo em que tudo se mistura. Do momento que deitamos para dormir até o despertar, muitas vezes somos levados em verdadeiras viagens realizadas por nosso cérebro. E enquanto algumas pessoas passam anos de suas vidas entre tranquilas noites com ou sem sonhos, há aquelas como eu que, ao menos uma vez na vida, já experimentaram o fenômeno da Paralisia do Sono. Quando dormimos profundamente, o corpo entra em estado de REM (Rapid Eye Movement), no qual sofremos uma paralisia temporária que nos protege de possíveis acidentes durante o sono, evitando a atuação física dos sonhos. Isso pode durar de alguns segundos a alguns infindáveis e terríveis minutos. Nesse estágio, a pessoa pode ter a sensação de estar consciente, mas fica incapaz de falar ou mover-se.

Do ponto de vista científico, a paralisia do sono é frequentemente associada à narcolepsia e a distúrbios de sono, mas também pode ocorrer esporadicamente em pessoas saudáveis. Eu sou uma do time das pessoas saudáveis que já foram acometidas por esse fenômeno peculiar. Só que, muito antes de considerar qualquer explicação científica, eu parti diretamente para a teoria de que um espírito me rondava. Em uma das ocasiões, era meio da tarde e eu adormeci no sofá assistindo televisão. De repente, senti aquele peso horrível no peito e algumas infrutíferas tentativas de movimento. Não sei bem como isso aconteceu, mas despertei gritando alto uma reza e fiquei realmente convencida de que era assombrada.

Assim como eu na época, muitas pessoas acreditam que sonhos podem ser visões ou presságios. No contexto da espiritualidade, essas experiências são frequentemente percebidas como momentos em que o véu entre os mundos tangível e intangível se torna fino, permitindo uma interseção entre a realidade física e espiritual. Em várias culturas, a paralisia do sono é entendida como uma vulnerabilidade à interferência de forças externas. Por exemplo, algumas tradições populares descrevem a paralisia do sono como resultado da ação de espíritos conhecidos como “incubus” ou “súcubos”, entidades maléficas que oprimem o peito dos adormecidos.

Sabe-se que os sonhos têm significados distintos dependendo da ótica em que são observados. Para a ciência, nada mais é que uma experiência do inconsciente, produto da interação complexa de várias regiões cerebrais, incluindo o córtex pré-frontal, responsável pelo pensamento lógico e planejamento, e o sistema límbico, que regula as emoções. Na psicanálise, os sonhos têm uma estrutura complexa: distinguem-se entre seu conteúdo manifesto (a narrativa superficial do sonho) e seu conteúdo latente (os significados ocultos e simbólicos subjacentes). Durante o estado onírico, o inconsciente utiliza mecanismos como a condensação, o deslocamento e a simbolização para camuflar desejos inaceitáveis sob formas que são mais palatáveis para a mente consciente. Ou seja, os sonhos são momentos em que realizamos nossos desejos reprimidos. Mas, dependendo da cultura, sonhar pode estar ligado a crenças e religiões.

O estado de paralisia do sono pode ser motivo de terror e muita angústia para quem passa por ele. Muitos relatam que a sensação é de estar preso em um terrível pesadelo, onde não é possível despertar para a realidade. O peito oprimido, como se alguém o estivesse empurrando para baixo. O corpo torna-se incrivelmente pesado ou, muitas vezes, tem-se a sensação de flutuar sobre si mesmo. Não raro, temos a impressão de estarmos deitados na cama e, ao mesmo tempo, em pé, enquanto podemos nos observar dormir. Em outros momentos, parece-nos haver outras pessoas conosco ou que estamos em outro ambiente diferente daquele em que lembramos ter adormecido. Embora a paralisia do sono geralmente não apresente riscos sérios à saúde, é importante consultar um especialista em sono se os episódios se tornam frequentes ou perturbadores, pois podem ser indicativos de condições subjacentes. Técnicas de boa higiene do sono, incluindo manter uma rotina regular de dormir e evitar estressores, podem ajudar a reduzir a incidência desses episódios.

Independentemente da forma como se encara essa experiência do corpo e da mente, esse é um tema pouco estudado e, portanto, causa um certo temor em quem o experimenta. Afinal, é de fato terrível, já que é algo que nos deixa incapazes de nos movimentar e falar, nos mantendo apenas respirando e cientes de tudo que acontece ao nosso redor. Então, imaginem esse fenômeno em conjunto com alucinações hipnagógicas e hipnopômpicas, criando experiências intensas e, às vezes, aterrorizantes para quem a está vivenciando. Dados apontam que, em um grupo de dez pessoas, até quatro podem apresentar episódios de paralisia do sono pelo menos uma vez na vida. Ou seja, é bem possível que um dia todos passarão pela experiência da Paralisia do Sono e ninguém está completamente imune. Com relação às causas, acredita-se que sono desregulado, estresse, mudanças abruptas na rotina e dormir de barriga para cima sejam possíveis motivos para que a pessoa passe por essa experiência. Sabendo disso, todo cuidado é pouco, afinal, você não vai gostar nem um pouco de ter seu merecido sono atrapalhado por visões aterradoras, certo?

É muito compreensível que as pessoas, independentemente de suas crenças, possam cair no campo do imaginário ao vivenciar uma experiência tão realística. Em muitas culturas, a Paralisia do Sono é vista como uma experiência sobrenatural. Na China, é como se o corpo fosse pressionado por um fantasma. Na cultura húngara, diz-se que, nesse estado, o corpo é tomado por várias entidades espirituais. No Brasil, esse fenômeno recebe o nome de Pisadeira, onde uma mulher medonha senta-se sobre o peito da pessoa adormecida, causando extremo desconforto. O fato de muitas pessoas relatarem a sensação de estarem fora do corpo durante a paralisia reforça o mito de que fazemos viagens astrais enquanto dormimos. No livro The Terror that Comes in the Night de David J. Hufford, o autor explora as experiências de paralisia do sono através das lentes das crenças espirituais e do folclore. Hufford afirma: "As interpretações espirituais da paralisia do sono não são meramente produtos da imaginação, mas sim elementos integrados das tradições culturais que fornecem estrutura e significado para essas vivências intensamente pessoais".

Hufford argumenta que essas crenças culturais e espirituais fornecem um enquadramento que pode ajudar os indivíduos a contextualizar e processar suas experiências, oferecendo um sentido de compreensão e controle sobre o fenômeno. Ele aponta que, embora a ciência possa fornecer explicações biológicas, as narrativas espirituais desempenham um papel crucial em ajudar as pessoas a lidar emocional e psicologicamente com essas experiências assustadoras. Dessa forma, ao reconhecer e respeitar as interpretações espirituais da paralisia do sono, podemos criar um diálogo mais inclusivo e empático, que valoriza tanto a ciência quanto a espiritualidade. Isso não apenas honra as crenças individuais, mas também promove uma abordagem mais holística para o bem-estar e a saúde mental daqueles que enfrentam essas experiências. Ou seja, o que acontece nesse meio tempo em que estamos adormecidos é ainda coberto de um certo mistério e, mesmo que nos últimos anos alguns estudos já tenham surgido como tentativas de desvendar o que de fato acontece enquanto dormimos, a verdade é que ainda há muito para se descobrir.

Realidade ou imaginação? Ciência ou mito? A experiência terá diversos significados dependendo do que você acredita. O que para alguns pode ser encarado como uma reação natural do corpo, em especial os mais céticos, para muitos outros é algo aterrorizante e que pode ter um quê de sobrenaturalidade. Essa segunda visão provavelmente já deve ter servido de base para diversos relatos de encontros com fantasmas ou abduções por extraterrestres. Para quem estiver interessado em assistir algo sobre o tema, O Pesadelo é um documentário que traz diversos relatos sobre essa assustadora condição que paralisa literalmente milhares de pessoas ao redor do planeta. Compartilhe conosco se você já passou pela experiência da Paralisia do Sono.