No terreiro da fazenda, cresci ouvindo os versos rimados de Leandro Gomes de Carvalho ecoando pelas paredes de taipa. Um dia, meu pai me chamou: "vem cá, filho, ouve esse cordel que diz muito do nosso sertão". E assim, entre raios de sol e sombras de mangueira, mergulhei na rica tradição da literatura de cordel, na qual a cultura popular brasileira se entrelaça em versos e rimas.

Essa bem que poderia ser a história de muitos nordestinos. Uma cena comum que retrata a transmissão da cultura cordelista entre gerações. E por falar nos versos rimados de Leandro Gomes de Carvalho, aí vai um dos seus famosos cordéis:

O nordestino é forte
Não tem medo de peleja,
Com fé em Deus e coragem
Ele enfrenta a vida alheia.

Nesses versos, sentimos a força e a resiliência do povo nordestino, características que são frequentemente retratadas na literatura de cordel. Leandro Gomes de Carvalho tinha o talento de capturar a essência da vida sertaneja em seus versos, encantando gerações com sua poesia popular.

Quem foi Leandro Gomes de Carvalho?

Leandro Gomes de Carvalho foi um dos mais proeminentes cordelistas brasileiros. Seu trabalho contribuiu para a popularização e o enriquecimento da literatura de cordel. Nascido em 1865, no município de Pombal, na Paraíba, dedicou sua vida à criação de versos rimados que capturavam a essência do povo nordestino e suas tradições.

Sua obra é vasta e diversificada, abrangendo uma variedade de temas - desde as façanhas dos cangaceiros até as histórias de amor e aventura. Ele era conhecido por sua habilidade em criar personagens e enredos que prendiam a atenção dos leitores do início ao fim.

Mas o que é a literatura de cordel?

A literatura de cordel é uma forma única de expressão artística, enraizada na tradição oral do povo nordestino. Originada no século 19 - quando os poetas populares iam de feira em feira, vendendo folhetos com histórias rimadas e ilustradas -, essa forma de arte rapidamente se espalhou por todo o Nordeste brasileiro.

Uma das características marcantes da literatura de cordel é a linguagem acessível que se comunica diretamente com o povo. Os cordelistas utilizam uma linguagem rimada e informal que facilita a compreensão das histórias. A seguir, vamos conhecer os maiores cordelistas brasileiros.

Patativa do Assaré

Verdadeiro ícone da cultura nordestina. Seus versos, carregados de lirismo e crítica social, capturam a alma do sertão e as lutas do povo nordestino. O poema "Vaca Estrela e Boi Fubá" é um exemplo marcante da sua obra. Nela, ele aborda temas como a seca, a fome e a esperança, com uma linguagem simples e tocante.

João Martins de Athayde

Outro nome de destaque na literatura de cordel. É conhecido como o "Rei do Cordel". Athayde produziu centenas de folhetos ao longo de sua vida, abordando uma ampla gama de temas, desde lendas e romances até questões políticas e sociais. Sua obra "O Romance do Pavão Misterioso" é uma das mais famosas do gênero, narrando a história de amor entre um príncipe e uma princesa, repleta de reviravoltas e aventuras.

J. Borges

Mestre na arte da xilogravura e do cordel. Suas ilustrações coloridas e vibrantes dão vida às histórias que conta em seus folhetos. As obras que produziu são reconhecidas não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Ele já recebeu inúmeros prêmios por sua contribuição para a cultura popular.

Um exemplo notável de sua obra é o cordel "O Romance de João Grilo". Nele, J. Borges recria a história desse personagem folclórico. Dá vida às aventuras e travessuras de João Grilo, proporcionando aos leitores uma experiência envolvente e memorável.

Uma instituição que preserva a literatura de cordel

A Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), fundada em 1988, é uma instituição de grande importância para a preservação e promoção da rica tradição da literatura de cordel no Brasil. Seu papel vai além de simplesmente reconhecer os principais nomes dessa forma de arte.

Essa instituição atua também como uma guardiã da memória cultural do país, mantendo viva uma tradição que remonta a séculos.

A academia reúne os mais renomados cordelistas do Brasil, proporcionando um espaço de intercâmbio de ideias, experiências e técnicas. Por meio de debates, simpósios e encontros, os membros da ABLC compartilham conhecimentos e discutem os desafios e oportunidades enfrentados pela literatura de cordel na contemporaneidade.

Além disso, a ABLC promove das obras dos cordelistas, organizando lançamentos de livros, exposições e outros eventos culturais em todo o país. Essas iniciativas aproximam o público das riquezas da literatura de cordel, contribuindo para sua valorização e preservação.

Outro aspecto importante do trabalho da Academia Brasileira de Literatura de Cordel é o seu compromisso com a educação e a formação de novos talentos. Por meio de oficinas, cursos e projetos educacionais, a ABLC estimula o interesse pela literatura de cordel entre jovens e crianças, garantindo que essa tradição continue viva nas gerações futuras.

Para finalizar este artigo sobre a literatura de cordel, nada melhor do que recorrer aos próprios versos rimados que tanto encantam e caracterizam essa forma de expressão tão singular:

Com rima e verso, o cordel se faz,
Nas mãos do poeta, ganha vida e paz.
É a voz do povo, em versos a rimar,
Contando histórias, sem nunca se cansar.
Assim encerro este artigo com gratidão e louvor,
À literatura de cordel, que encanta e seduz o leitor.
Que seus versos continuem a ecoar, por toda a eternidade,
Preservando nossa cultura, com amor e verdade.