Depois de anos de recessão de tecidos, cores vivas e feminilidade, o período pós segunda guerra mundial trocou a discrição pela liberdade e ficou marcado pela volta das silhuetas, da sensualidade, do refino e do luxo.
Christian Dior, designer e criador da maison de luxo francesa Dior, lançou no final dos anos 1940 o que ele chamou de New Look, estética que marca a década e o período posterior à guerra.
Durante o segundo conflito mundial, tecidos bons como seda e couro passaram a ser usados em massa para os uniformes dos soldados e utensílios de batalha. A escassez fez com que a indústria têxtil e da moda se reinventasse a partir de novas matérias-primas.
As mulheres, assim como na primeira guerra, substituíram muitos homens nos chãos de fábrica, o que refletiu em uma escolha por roupas mais confortáveis, práticas e discretas, afinal eram tempos difíceis. A masculinização do guarda-roupa feminino marcou a mulher do começo dos anos 1940.
Com o fim do conflito, os nobres tecidos voltaram, o neutro deu espaço ao colorido e volumes fizeram sentido novamente.
O New Look de Dior tem saias amplas, cintura marcada e chapéus dramáticos. O modelito que iniciou a moda do pós-guerra sobreviveu até o final dos anos 1950, quando estampas, cores muito vivas e pele à mostra passaram a caracterizar a moda dos anos 1960.
Valendo três trilhões de dólares e figurando o ranking dos setores mais expressivos em crescimento e faturamento, é ingenuidade pensar que a indústria da moda não reflete padrões socioculturais em períodos de guerra, crises de saúde e bipolaridades políticas.
Apesar da superficialidade aparente e pré julgada, a moda, além de movimentar o mercado empregando milhões de profissionais e impulsionando outros setores, como o do comércio e têxtil, também é uma válvula de expressão e de escape para as pessoas.
A moda é isso: uma grande forma de expressão dos movimentos socioculturais e políticos.
Estamos em 2023. Passamos por quase 3 anos críticos de uma pandemia que chegou nos lembrando de como somos frágeis, despreparados e vulneráveis. Ademais, o mundo é platéia de um conflito tenebroso entre países eslavos e bipolaridades políticas presentes em Estados ao redor do globo.
Como todo esse contexto reflete no que vemos hoje nas vitrines, ruas, desfiles, guarda roupas e corpos?!
Em 2022 tivemos um boom das cores com a chamada moda dopamina. Verde bandeira, laranja, pink e azul cobalto eram figurinhas certas na moda de rua. As pessoas estavam cansadas de usar moletom e pijamas, costume herdado por meses de isolamento.
O metalizado e os corsets foram febre nos últimos dois anos. O brilho representava tudo que ficamos um bom tempo sem ter. E esta última tendência conversa diretamente com as silhuetas marcadas dos anos 1950.
Depois de dois anos em moletons e pijamas, roupas de home office, sofá e isolamento, o justo tomou de volta seu protagonismo.
As pessoas precisavam lembrar que estavam vivas, queriam sentir e promover estímulos através das cores, formas e brilho.
A moda é cíclica. E, historicamente, vemos que quando uma tendência é valorizada ao extremo em pouco tempo ela satura e dá espaço ao seu oposto. Já no final de 2022 e agora no começo de 2023 vemos o bege tomar conta das araras, uma resposta direta ao boom das cores do pós-pandemia.
O metalizado e os corsets ainda estão em alta, mas será que por muito tempo?!
Vivemos tempos de transformações velozes e não lineares. Essa rapidez também afeta a indústria da moda. Tendências cada vez mais passageiras e perigosamente descartáveis refletem um mundo desesperado por viver o agora.