Mendes Wood DM São Paulo tem o prazer em apresentar a primeira exposição individual de Sofia Borges na galeria. Trabalhando primariamente com fotografia, a artista cria suas imagens combinando e sobrepondo incógnitas em um constante processo de escavação – muitas vezes criando imagens subtraídas de outras imagens, propondo assim uma escrita apócrifa sobre a origem do tudo.
A partir da uma prática espiral de busca da origem e densidade da imagem, Borges explora um exercício de observação e adição de camadas de significado, conteúdo, matéria sobre o que se vê, deflagrando nisso o que se revela por detrás da superfície. Sua prática segue a contramão da mídia fotográfica – que se propõe registrar o visível – quase que em uma pragmática atividade ontológica sobre a concepção do entendimento sobre o tudo, Borges nos entrega a dúvida a partir de seu avesso: imagens matéricas, registrando o invisível da percepção.
Selecionando cuidadosamente os ângulos dos quais tira suas fotografias, a artista rompe com a noção de ícone e o transforma em imagem, liberando-o de seu significado ou contexto primordial. Ao escolher se concentrar em detalhes específicos de um objeto ou composição, a artista provoca uma discussão sobre como a linguagem pode definir, borrar ou apagar questões sobre o visível e o que uma fotografia de fato é.
Na primeira sala da mostra, as paredes sustentam indecifráveis figuras em larga escala, que por uma experiência com a ideia de monumentalidade, entrega uma esfinge que desafia não só quem à observa, mas a si mesma, ao mesmo tempo que sugere linhagens como o puro e o impuro, o autêntico e o incerto e depois de apresentá-las as embaralha. O resultado entregue por Borges tem caráter mitológico, o que leva a lembrar uma das várias correntes filosóficas que emergiram na Grécia antiga, os sofistas, que conferem às atividades pictóricas caráter mítico. O fator enigmático de uma imagem é um dos pilares de sua obra.
Tomada por pigmento que cobre as paredes na Sala Norte, Borges gera um atrito entre o enigma da cor e da máscara. O olhar da artista não é mais um olhar sobre um exterior, mas às existências que percebidas. Propõe a matéria do mito, a substância do vazio, que em uma caixa escura coberta de carvão pede a luz, assim como o fogo, que existe primeiro nessa luz, assim como a imagem, que existe antes de todo o visível.
Sofia Borges (1984, Ribeirão Preto) vive e trabalha entre São Paulo e Paris.
Exposições recentes incluem Being: New Photography, The Museum of Modern Art, New York (2018); 33ª Bienal de São Paulo – Afinidades Afetivas: A infinita história das coisas ou o fim da tragédia do um, São Paulo (2018); 7th Daegu Photo Biennale, Daegu Arts Center, Daegu (2018); Il Coltello Nella Carne, Padiglione d’Arte, Contemporanea, Milão (2018); No Mold For White But No Mold For Fire, Float Gallery, Atenas (2017); CORPO A CORPO: a disputa das imagens, da fotografia à transmissão ao vivo, Instituto Moreira Salles, São Paulo (2017); Black Chalk and White Charcoal or The Myth of The Absent Matter, Foam Fotografiemuseum, Amsterdam (2016); De Mineralis, pierres de visions, Institut d’art contemporain, Villeurbanne/Rhône, Alpes (2015).