A prática de Francesco João se entrega à ambivalência do método pictórico, enfatizando a dualidade entre o imediatismo e a complexidade excessiva do meio. Imerso em um loop de reconfiguração em constante mutação e em constante evolução, o meio da pintura reafirma duradouramente sua substância tanto pela legitimação histórica quanto pelo confronto com imagens de disseminação rápida que se aderem à esfera do digital.
A complexidade desse gesto específico - a pintura - encontra seu reflexo no trabalho de João, onde a imagem é produzida através do uso de um esquema complexo de camadas justapostas, que permitem que as formas surjam por meio da subtração. Mergulhando profundamente na tangibilidade calibrada da tela, o gesto de João é orientado para a produção de imagens funcionando como ideias. O imediatismo - digamos, a inocência - da pintura é o núcleo real no qual o trabalho de Francesco João é fundamentado, ou seja, a capacidade de fornecer significado sem muitos obstáculos formais, sendo também autoconsciente ao investigar a natureza do próprio meio.
As telas produzidas pelo artista nestes últimos anos consistem na elaboração de uma linguagem visual que é disruptiva em sua sensualidade e crueza. Paletas gradientes e texturas sonhadoras murmuram segredos de fuga, horizontes esquecidos e galáxias rarefeitas - camadas e camadas de guache que protegem do olhar do espectador. No trabalho de João, a união do enigmático e do pragmático é tangível, pois é a associação de cenários simples e diretos com extra-complicações que muitas vezes seqüestram a linearidade de suas pinturas. Essa dualidade desencadeia o mistério suave que está latente na produção de João - aquela sensação de fascinação etérea quando se depara com grandes painéis envoltos em tela crua.
Francesco João (Milão, 1987) vive e trabalha em São Paulo. Suas exposições incluem Donkey Man, Mendes Wood DM, São Paulo (2017); Everything tends to ascend. Or not., Pivô, São Paulo (2016); Summertime ’78, Kunsthalle São Paulo, São Paulo (2015); Nimm’s Mal Easy, Ausstellungsraum Klingental, Basel (2015), Extra DRY, Peep Hole/DRY, Milão (2014), Dizionario di Pittura, Galleria Francesca Minini, Milão (2014), The Opposite of the Opposite Opposite of the Opposite, Gasconade, Milão (2012).