A Mendes Wood DM Bruxelas tem o prazer de apresentar Two Forward, Three Back [Dois para frente, três para trás], exposição com novas pinturas de Iulia Nistor. Em sua primeira individual na Bélgica, a artista romena expõe o conjunto de obras Pieces of Evidence [Provas] – pinturas à óleo, em madeira, que compartilham o mesmo formato. A exposição também inclui uma única pintura em madeira de tamanho maior.
O título Dois para frente, três para trás se refere ao processo de pintura com o qual Nistor cria esses trabalhos. Resultado de um método que consiste em sobrepor várias camadas de tinta para depois removê-las repetidamente com prensagem de papel ou lixa, as pinturas de Nistor podem ser descritas como um processo de escavação. Para a artista, são as regressões resultantes desse método de informar e descarregar que instigam o campo sensual.
Muitos diriam que vivemos em um palimpsesto, no qual antigas palavras são ofuscadas por novos significados. Conforme “progredimos” para novas formas de compreensão, encobrimos nossos anacronismos, abafando-os com aplicações cosméticas. Ao confundir hipóteses e crenças com conhecimento, acabamos por agir e julgar com base em certezas exageradas. A tendência a adotar informações e simplificar as coisas não é o resultado de uma necessidade pragmática, mas um desdobramento da própria natureza da linguagem e dos signos. Nossa sociedade se tornou obcecada com uma forma de compreensão tão somente construída, muitas vezes sem qualquer essência. Em um mundo de significantes multifacetados, um método de reexame e escavação cuidadosa revela uma visão analítica.
O trabalho de Nistor adentra um processo introspectivo interessado na correlação possível entre forma e conteúdo, perguntando, sobretudo, em virtude de quê uma imagem representa. Seu processo pictórico, no entanto, não contém uma realização bem planejada de uma ideia preconcebida. As camadas não constroem a imagem de uma forma tradicional, mas, antes, são contraditórias ou aparentemente desconectadas.
Aquilo que constitui a imagem é encontrado durante o processo de pintura. Deve-se estar preparado caso as coisas tomem um rumo inesperado. O ato de remover, de negar ou tornar invisível é crucial, já que implica a prontidão de questionar ou reexaminar a si mesmo, suas ideias e conclusões. Há, nisso, o poder de nos tornar conscientes de aspectos, dinâmicas e razões que talvez tenham passado despercebidos até aquele ponto. Abandonar algo e começar do zero pode, às vezes, ser, de fato, necessário. Conforme Nistor remove a tinta, os fragmentos que sobram sedimentam e formam a base pictórica. Ao raspar a superfície de suas pinturas, ela revela uma certeza sensorial: o envolvimento do espectador em uma experiência fenomenológica direta.
Segundo o filósofo Nelson Goodman: “A verdade não pode ser definida ou testada em concordância com ‘o mundo’; não só por existirem verdades diferentes para mundos diferentes, como pelo fato de que a natureza do acordo entre uma versão e um mundo independente dela é notoriamente nebulosa”. Portanto, a verdade objetiva parece improvável, já que existe uma multiplicidade de mundos. Aquilo que é verdade em um mundo, pode não ser verdade em outro.
Com o intuito de colocar as coisas sob perspectiva, Nistor pede que escavemos o palimpsesto. Pede que nos afastemos de nosso entendimento das coisas nos distanciando de nossas opiniões e atitudes. A ideia de retroceder não deve ser interpretada, neste caso, como o retorno a um estado anterior de consciência. Mas, antes, deve ser entendida como a revelação de presunções subentendidas, como a conclusão do condicional à condição, para que, no final das contas, o próprio pensamento seja questionado. Devemos reivindicar e remover, afirmar e negar, raspar a superfície não apenas para revelar nosso próprio método de compreensão, mas para alcançar um lugar diferente e passar a pisar em outro chão.