O curador Alfons Hug traz à Zipper uma seleção de trabalhos que estiveram no maior panorama da arte contemporânea africana já exibido no país, a coletiva “Ex Africa”, que itinerou pelas sedes do CCBB durante 2018. Com trabalhos de J. D. 'Okhai Ojeikere (Nigéria, 1930-2014), Leonce Raphael Agbodjelou (Benin, 1965), Nástio Mosquito (Angola, 1981) e Karo Akpokiere (Nigéria, 1981), a mostra “África revisitada”, aberta a partir de 6 de novembro na galeria, reúne um pequeno vislumbre de um universo imenso e ainda muito inexplorado pelo público no país.
“A identidade africana moderna é marcada por uma diversidade de encontros culturais e interações, por processos de intercâmbio e aculturações. Se, inicialmente, esses processos diziam respeito à Europa e à América, hoje em dia, e acompanhando a globalização, também se estendem a outras partes do mundo. Logo, a arte africana movimenta-se na zona de tensão entre diversos arquivos: tradicionais e modernos, coloniais e pós-coloniais, locais e globais, cosmopolitas e aqueles influenciados pela diáspora”, afirma o curador que, desde a década de 1980, vem curando exposições de artistas do continente africano.
A coletiva na galeria busca as relações entre os trabalhos de quatro artistas de três países da África. Do nigeriano J. D. 'Okhai Ojeikere, a mostra reúne a destacada série de fotografias de penteados femininos que refletem a revolução da estética ocorrida após o processo de independência daquele país nos anos 1960. Ainda no terreno da fotografia, a série “Code Noir” do artista Leonce Raphael Agbodjelou, de Benin, retrata integrantes da comunidade de Porto-Novo, sua cidade natal desenvolvida originalmente a partir de um porto português para venda de escravos. Agbodjelou faz uma narrativa visual da África e de seu processo de colonização, em locações cuidadosamente selecionadas, em busca de registros de um passado esquecido.
Já os desenhos do nigeriano Karo Akpokiere fazem referência à cultura da cidade de Lagos, em uma linguagem visual que remete ao design gráfico e à publicidade presentes naquele ambiente urbano. A mistura de palavras e imagens oferece uma leitura panorâmica dos contextos social, político e religioso predominantes na cidade onde o artista vive e trabalha. Por fim, o vídeo “Hilário” (2016), do angolano Nástio Mosquito, completa o conjunto de trabalhos da coletiva. A vídeo instalação ocupa a sala expositiva do andar superior da galeria. Multifacetado, o trabalho cria linguagens híbridas que percorrem os universos da música, poesia e artes visuais.
“A arte contemporânea africana deu as costas a dois preconceitos longamente estabelecidos: de um lado, o estigma do artesanato e da ‘arte de aeroporto’ e, de outro, as referências etnológicas. Como em toda parte, também na África a arte encontra-se em um permanente processo de renovação criativa”, afirma o curador.
A coletiva “África revisitada” fica em cartaz até 12 de janeiro de 2019.