Mendes Wood DM tem o prazer em apresentar pela primeira vez no Brasil o filme Neutral Corner de Lucas Arruda. Resultado da pesquisa incessante do artista sobre as relações de tempo-espaço demarcadas pelas experiências no processo de construção e reconstrução da memória, o video utiliza a gravação da luta entre Benny Paret e Emile Griffith durante o campeonato de boxe de peso médio de 1962. Griffith chegou a lutar 337 rodadas do campeonato mundial, 69 mais do que Muhammad Ali, mas seu lugar no panteão seria ofuscado para sempre por sua trilogia trágica contra Paret.
A montagem do video fragmenta toda a linearidade dos acontecimentos, recortando espaços não observados do plano da imagem, explorando todos os componentes invisíveis, como as estruturas do ringue de boxe, o público, e os corpos dos lutadores e suas equipes. Suspendendo a linguagem ao invés de provocá-la, o trabalho evidencia espaços vazios, ruídos abafados que se interrompem por fragmentos de uma composição da violoncelista islandesa Hildur Gudnadottir, nos levando indiretamente às pinturas do artista, que provocam mais questões do que respostas, mais ausência do que presença e uma exuberante experiência momentânea de beleza sobre a permanência dos silêncios.
A ideia de brandura se estabelece aqui como uma força que une valores estéticos; o trabalho de Arruda, tanto na pintura quanto nas instalações de luz e vídeo, propõe materializar a ideia de neutralidade, encontrar o ponto em que tudo é possível, um momento de consciência ou visão que faz com que o sujeito e o próprio conhecimento vacilem. Ao utilizar como plano de fundo uma luta violenta, o artista cria improváveis paralelismos com a ideia de neutralidade.
No boxe o canto neutro é 1 de 2 cantos do ringue que não é atribuído a nenhum dos lutadores. Esta é a área onde um lutador é instruído a ficar de pé quando ele derruba seu oponente, enquanto o árbitro começa sua contagem de 10. O neutro aparece em vários estudos como uma força ambivalente, uma rachadura nos paradigmas e um ponto de desequilíbrio nos binarismos. Lucas Arruda provoca os limites dentro de seu próprio corpo de trabalho, se lança nesse canto neutro e entrega uma reflexão sobre as cintilações da neutralidade, como consciência, oscilação, vulnerabilidade, conflito, rito e silêncio.
Lucas Arruda (São Paulo, 1983) vive e trabalha em São Paulo. Suas exposições individuais incluem Neutral Corner, Mendes Wood DM, Bruxelas (2018); Lucas Arruda, David Zwirner, Londres (2017); Deserto-Modelo, Indipendenza, Rome (2016); Deserto-Modelo as above, so below, Mendes Wood DM, São Paulo (2016); Deserto-Modelo, Lulu, México DF (2015); Deserto-Modelo, Pivô, São Paulo (2015).
O artista participou de inúmeras mostras coletivas que incluem Anozero – Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra, Coimbra (2017); Soft Power. Arte Brasil, Kunsthal KAdE, Amersfoort (2016); New Shamans/Novos Xamãs: Brazilian Artists, Rubell Family Collection, Miami (2016); As if in a foreign country, Galerie Schwarzwälder, Viena (2015); 1ª Bienal Internacional de Asunción - Grito de Libertad, Asunción (2015); Chambres à Part, Edition VIII, La Réserve Paris, Paris (2013); Here is Where We Jump, Museo del Barrio, Nova York (2013).