Se eu não fosse artista, o que poderia ser? É a pergunta que António Olaio se faz e faz aos seus espectadores – o artista que não vê outro caminho senão o da arte. E, na arte, escolhe a pintura. E, na pintura, decide o caminho mais objetivo – o da figuração quase híper real, o que diz muito deste artista e do seu conceito de objetividade.
Como ele próprio afirmou numa entrevista, o mundo objetivo é um universo de possibilidades que cada um pode manejar, refazer, transformar. Não foram estas as suas exatas palavras, mas a ideia de uma objetividade subjetiva estava lá. Um artista que não é apenas um pintor. Muito se poderia dizer da sua pintura, mas ela não lhe basta. A pintura continua no gesto que enceta performances e canções. E vídeos, e instalações e poesia. Poesia quotidiana, feita de palavras objetivas.
O que poderia ser, se não fosse um artista? António Olaio responde à sua própria questão: muitos artistas. Ou um artista multiforme, polifônico, inesperado. Um artista que dificilmente encontra um rótulo que lhe sirva à medida. Marcel Duchamp, alguns anos antes de morrer, disse que a arte não podia ser reduzida a tintas, pincéis e materiais. O artista, além do gesto criador, possuía o gesto antes do gesto. A conceção de algo que ainda não se tornou concreto, material, objetivo.
O mais interessante é pensarmos que a sua última obra foi uma instalação, um diorama, um jogo óptico executado em segredo pelo artista que afirmara só se interessar pelo jogo de xadrez. Uma obra matérica, mesmo que misteriosa. Mas executada, não apenas idealizada. Tornada gesto. Uma instalação que obrigava o espectador a espreitar, como um voyeur. Porque a arte é sempre este indomável que escapa das determinações e dos princípios teóricos. A arte, aquela que é feita pelos artistas que não saberiam ser outra coisa que não eles mesmos, artistas, anseia a liberdade. A arte de Olaio há muito que lhe escapou: ela é diversa, ela é uma multidão que se alimenta de todas as referências e vivências e da vida do seu criador.