Mendes Wood DM tem o prazer de apresentar a exposição do artista italiano Alessandro Carano e do artista ítalo-brasileiro Francesco João Scavarda.
Os nossos trabalhos, singularmente, têm pouco a ver entre si, mas ambos trabalhamos sobre uma ideia de sublime que pouco tem a ver com a acepção romântica ao qual somos acostumados, mas com aquela estranha sensação de desconforto adrenalístico que se sente em frente de algo imprevisível. Algo que não conhecemos. É aquela mesma sensação de pânico quando se visita rotten.com, que te leva a clicar nas imagens antes de sentir a necessidade de vomitar.
Esperando que os trabalhos que apresentamos hoje não deixem essa segunda sensação, gostaríamos que se refletisse sobre a primeira dessas sensações; sobre a ideia de que, se pela Lei dos Grandes Números é fácil prever o resultado - perda ou ganho - sobre a totalidade dos clientes de um cassino, ao mesmo tempo, prever o êxito de uma jogada individual não é simples.Isso nos leva a pensar sobre a previsibilidade dos Grandes Números, onde na Bolsa de Chicago é possível comprar toneladas de trigo por milhões de dólares, de colheitas que ainda nem foram semeadas. É interessante como, nesses termos, o futuro é muito mais previsível do que somos acostumados pensar, é tangível e representa um constante potencial de investimento. Uma aposta sempre vencedora.
Se de um lado tendemos a nos aproximar do futuro, pois ele com suas promessas nos conforta, do outro tendemos a nos acomodar no passado por suas certezas e a comodidade de que tudo o que nos é proposto já foi digerido e aceitado. Dessa forma não encontramos dificuldade em reconhecer a beleza - por exemplo - da Capela Sistina ou dos púlpitos de Donatello na Basílica de San Lorenzo em Firenze, mesmo que tenham sido altamente criticados em suas respectivas épocas.
O passado nos dá experiência; o futuro, esperança, em ambos existe algo de confortante; os separa, na linha do tempo, o presente, que é mais difícil de ser encontrado, pois o escondemos bem. No presente não há perspectiva, não há tempo de interpretação, ele não é previsível, tudo é apenas como se apresenta, apenas é. Isso é o que nos interessa.
Se é verdade que on the internet nobody knows you’re a dog, da mesma forma é também verdade que ninguém sabe se você é um ser humano. Não importa se você tem doze anos ou se você é mãe, canadense, um robô ou um fantasma, o que importa é a informação, o conteúdo, a coisa em si, assim como se apresenta: o presente. Temos refletido sobre esse conceito e, pensando bem, percebemos que já houve um momento em que os humanos viveram no presente. É necessário voltar para os caçadores-coletores ou ao Neandertal, uma época bem anterior ao nascimento da própria História, onde o conceito de tempo era provavelmente mais parecido com aquele do Google, ou seja, quanto menos tempo eu demoro para achar o que estou procurando, melhor. Só isso.
Quando o Homo Sapiens ou, se preferir, o homem moderno, encontrou o Neandertal, que fim se deu? Fala Anthony Hopkins no seriado da HBO, Westworld: nós o comemos.
Se o Homo sapiens comeu ou não o Neandertal, pouco importa, de fato um se afastou e deixou o lugar para o outro mais evoluído, mas pensar que depois de 200.000 anos ainda somos Sapiens é um pouco decepcionante. Precisaria de um boost.
Em Lo and Behold, Werner Herzog nos conta que a primeira informação trocada na internet, quando ainda estava em fase de experimentação, foi a palavra Lo. Era uma parte das palavras Log In, mas a conexão, sendo ainda primitiva, caiu e forneceu ao interlocutor apenas as primeiras duas letras.
Pensando nesse episódio, nos é natural concluir que essa anedota seja apenas um episódio simpático, como o fato do nome do famoso videogame Nintendo Donkey Kong Country seja consequência de um análogo erro de informação, onde a mais provável letra M de Monkey (o protagonista é um macaco) teria deixado lugar a um D de Donkey. Em outras palavras, isso não tem importância nenhuma, não impediu de estarmos nesse ponto, aqui, agora.
Isso para dizer que o nosso interesse é o presente enquanto imprevisível, a sede de conhecimento leva o ser humano em busca do inexplorado; caçar e coletar como o monkey man das cavernas, novamente como na pré-história. Do monkey man contemporâneo, não importa a origem, ou qual seja seu aspecto, se é mulher, homem, criança; ele é abstrato e se desfaz nas informações. Donkey Man.
Alessandro Carano (Gallarate, 1984) vive e trabalha em Milão. O trabalho do artista é voltado para os elementos que se encontram à margem da produção artística, materiais esses que interagem fisicamente com o tempo e as circunstancias do ambiente, essas mudanças físicas nos objetos de arte são o centro de sua pesquisa. Em instalações de parede, o artista tenciona questões estruturais da pintura através de colagens, bricolagens, materiais como arames, silver tape e tachas. Entre suas principais exposições estão: Goodguys (Gran Riserva), Gasconade, Roma (2014); A Two-dimensional Surface Without Any Articulation Is A Dead Experience, BeatTricks, Milão (2014); Fuoriclasse, Galleria d’Arte Moderna, Milão (2012); Lady Dior As Seen By, La Triennale di Milano, Milão (2012).
Francesco João Scavarda (Milão, 1987) vive e trabalha em São Paulo. É interessante para Scavarda que haja uma familiaridade nas imagens construídas em sua pintura, algo habitual, mas que ao mesmo tempo deixem uma sensação de estranhamento. O sublime como desconhecido, inexplorado. Scavarda recusa a questão do processo pictórico, a atenção é posta apenas sobre a Pintura por si própria, a incontestabilidade dessa mídia por ser o arquétipo da obra de arte. A discussão sobre a materialidade do objeto de arte é alimentada pelo uso do guache sobre tela crua que permite que o pigmento penetre na trama, fazendo com que a tela deixe de ser apenas um suporte para o sujeito, mas se torne parte do próprio sujeito. Suas exposições incluem: Everything tend to ascend. Or not., Pivô, São Paulo (2016); Summertime ’78, Kunsthalle São Paulo, São Paulo (2015); Nimm’s Mal Easy, Ausstellungsraum Klingental, Basel (2015), Extra DRY, Peep Hole/DRY, Milão (2014), Dizionario di Pittura, Galleria Francesca Minini, Milão (2014), The Opposite of the Opposite Opposite of the Opposite, Gasconade, Milão (2012).