O presente artigo surge de uma reflexão (um tanto quanto pessoal) relativa a experiências e vivências na nossa jornada profissional e acadêmica. Nesse contexto, tenho percebido cada vez mais a importância e os benefícios de continuar estudando, se qualificando, mas também que isso, por si só, muitas vezes não é suficiente para que possamos chegar a posições melhores em termos profissionais. Pensando nisso, gostaria de refletir (e expor essas reflexões) sobre as relações entre a qualificação técnica, que aqui podemos definir como educação continuada, e também o networking profissional, que poderíamos associar com a qualificação comportamental.

Nesse sentido, para que possamos melhor compreender o que de fato compreende a educação continuada, podemos pensar que todo e qualquer modo de estudo formal é válido para nossa educação. Do ensino fundamental ao superior, tudo aquilo que aprendemos é demonstrado de alguma forma em nosso dia a dia, seja em situações pessoais simples até em situações corporativas de maior complexidade.

Logo, quanto maior o nosso esforço, dedicação e também tempo para nos aprimorarmos em relação aos nossos estudos, maior tende a ser nossa capacidade técnica, relacionada fortemente com a educação continuada que construímos. Em outras palavras, certas situações, principalmente no ambiente de trabalho, nos exigem que saibamos certos conhecimentos ou informações para resolver problemas, implementar melhorias, mediar conflitos, inovar ou mesmo dar sequência a uma infinidade de trabalhos. Portanto, ao conhecermos algum determinado assunto ou atividade, claramente a nossa capacidade de agir sobre tal assunto fica muito mais fácil, e nesse caso podemos ter mais produtividade e eficiência em sua resolução.

Aqui, neste ponto, vale ressaltar que a educação continuada em si não deve ser confundida apenas com estudos teóricos, mais de nível formal, em sala de aula, por exemplo. Atividades práticas também são muito importantes, inclusive para que possamos adquirir experiência nesses conhecimentos. As chamadas habilidades (algo que se aprende fazendo, a partir de certos conceitos teóricos) podem ser (e geralmente são) muito importantes para que possamos resolver situações diversas com mais rapidez, inclusive de maneira mais racional e inteligente, proporcionando por vezes maior visibilidade e destreza, principalmente em ambientes corporativos.

Considerando essa importância de continuarmos nos qualificando, tanto na teoria quanto na prática, no contexto de educação continuada, e considerando também as dificuldades tradicionais do mercado de trabalho com toda a competitividade entre talentos, as altas demandas profissionais, dentre outras, podemos evidenciar que, por mais importante que um profissional seja, por vezes apenas sua qualificação técnica (fruto da educação continuada) não é suficiente.

Inegavelmente, quanto mais estudamos e adquirimos experiência (o que também inclui métodos de educação informal, como autoaprendizado ou outras formas), a tendência de crescermos em nossa carreira aumenta. Portanto, podemos chegar mais longe a partir de nossos próprios esforços.

Em complemento a esta reflexão, podemos também abordar algo que parte de um famoso ditado: "quem não é visto, não é lembrado". Eu particularmente me recordo de ter ouvido esta expressão em inúmeros momentos durante minha jornada profissional até aqui, e isso realmente faz muito sentido quando analisamos um contexto de mercado mais amplo.

Em termos práticos, por melhor que uma pessoa possa ser, se o seu trabalho não é visto, esta pessoa não será facilmente lembrada quando oportunidades surgirem. Seja pelo reflexo de seu trabalho em termos de produtividade ou contribuições à sua organização, ou mesmo pelo seu relacionamento interpessoal e sua postura perante seus colegas (marca pessoal), quanto melhor for a visibilidade de um profissional, mais fácil será que ele evolua, pois seu trabalho, competências e qualificações estarão mais evidentes em seu meio.

E qual a melhor maneira de criar uma marca pessoal e melhorar a nossa visibilidade, senão no relacionamento com outras pessoas? A isso, no ramo corporativo, nos referimos ao processo de networking, ou então à criação de uma rede de contatos (corporativa). O foco desta corrente profissional está em exatamente ser visto, ser lembrado, criando amizades e relacionamentos com pessoas-chave que poderão nos ajudar em algum momento, nos proporcionando aprendizados diferentes, novos conhecimentos ou mesmo oportunidades de progressão em nossa carreira, seja através de vagas, indicações para processos seletivos, ou mesmo parceria em novos projetos ou empreendimentos.

Nesse ponto, cabe destacar que o foco do networking não está na manipulação das pessoas, isto é, usar contatos para nos favorecer apenas. Não queremos ser antiéticos ou mesmo egoístas ao ponto de apenas nos aproximarmos de outras pessoas para que elas nos ajudem. Este não é o nosso foco.

O que buscamos, em contrapartida, é aliar uma amizade entre profissionais que de alguma forma possa nos ajudar, tudo isso de forma ética, transparente e verdadeira entre as pessoas. O desejo de contribuir e de buscar contribuição, portanto "dar e receber algo em troca", é algo que deve ser genuíno, de tal modo que as relações através do networking sejam as mais naturais possíveis.

Isso tudo envolve esforço de ambas as partes em um relacionamento profissional/acadêmico (que posteriormente pode evoluir para uma amizade pessoal, por exemplo). Ao passo que nós temos de tentar ser interessantes (e não interesseiros), devemos também alinhar expectativas frente ao que buscamos de alguma pessoa nova que estamos conhecendo e iniciando o relacionamento via networking.

Em termos práticos, ao invés de buscarmos, por exemplo, alguma referência na área de tecnologia, visando uma aproximação que nos abra oportunidades de carreira e novos aprendizados, e que nossa abordagem seja totalmente direta, devemos pensar em como poderíamos ter uma abordagem mais suave, ao ponto de que nossa conversa inicial e posterior relacionamento surjam como algo natural, e que no momento certo, quando as condições forem melhores, poderemos inclusive ter aquilo que buscávamos inicialmente de forma espontânea e mais natural.

Logo, o networking serve como uma forma de ser interessante ao ponto de usarmos nossa educação continuada para contribuir para aquelas pessoas com quem temos laços (redes de contatos), e vice-versa. O foco está em ter referências em diferentes áreas de conhecimento (ou indústrias) para que possamos ampliar a nossa visibilidade no meio corporativo e acadêmico.

Dentre algumas formas interessantes de se conseguir melhorar nossa rede de contatos, estão as plataformas online, mais com perfil corporativo, como o próprio LinkedIn, bem como outras redes sociais diversas. No ramo de educação continuada, alguns exemplos de como podemos criar networking podem ser vistos em situações de menor duração, seja em palestras ou formações rápidas, congressos específicos etc., ou mesmo em estudos mais formais e longos como graduações, pós-graduações, mestrados, doutorados etc.

Em complemento, segundo artigo redigido pela Harvard Business School (referência na área de negócios), 4 dicas são essenciais para melhorarmos nosso networking:

  1. Foco no aprendizado: conforme mencionamos anteriormente, a educação continuada sempre será essencial, afinal, temos de "ser bons" para que possamos aumentar nossa atratividade, o grau de interesse que geramos nas outras pessoas. Além disso, ao aprendermos mais, podemos contribuir mais com os outros, melhorando nosso networking. Por fim, quando aprendemos mais, tornamos nossa visão de mundo maior, mais ampliada e madura, logo podemos expandir e focalizar melhor o nosso networking, tornando-o melhor.

  2. Identificar interesses em comum: para criar rapport (termo que define a conexão entre duas pessoas) com mais assertividade, devemos saber aquilo que desperta interesse em outras pessoas com as quais queremos nos conectar. Isso nem sempre é fácil, mas é um esforço necessário. Seja por redes sociais como o LinkedIn, Instagram ou outros, ou mesmo por uma conversa mais informal (com perguntas abertas em tom de interesse, que buscam uma abertura da pessoa com a qual estamos falando), diversas técnicas e métodos podem facilitar a descoberta desses interesses em comum.

  3. Pensar amplamente naquilo que podemos oferecer: assim como estabelecemos anteriormente, temos de ser interessantes e não interesseiros, temos de dar para receber, contribuir de alguma forma para um networking justo, verdadeiro e ético, além de ser focado no longo prazo. Logo, um dos primeiros passos ao tentar uma aproximação com alguma pessoa-chave que poderia somar ao nosso networking (ou mesmo outras pessoas que poderíamos ajudar) está em avaliar aquilo que temos, como podemos ajudar e como faríamos isso. Por vezes, a relação dar-receber é desbalanceada, isto é, não temos muito para dar (ou o contrário), mas ter em mente que podemos contribuir para com o outro é um processo essencial em um networking eficiente.

  4. Achar um propósito superior (ou maior): por fim, devemos entender que o networking não se trata necessariamente de fazer amigos, ao menos não em termos de quantidade. O foco está em ter um propósito maior, isto é, ter em mente que temos uma carreira, temos planos para o futuro, e para chegar lá podemos ter pessoas que nos ajudem, e em sentido contrário poderemos ajudar pessoas conforme nos aproximamos dos nossos objetivos. Portanto, nosso networking deve ser orientado, focado naquilo que queremos no longo prazo, inclusive por motivos da necessidade de nos mantermos ativos em nossa rede de contatos. Devemos manter um diálogo regular com as pessoas ao nosso redor, de tal forma a manter o relacionamento "aquecido", "vivo".

Quando não há um alinhamento dos contatos com nosso propósito superior, isso fica consideravelmente mais difícil, pois ao mesmo tempo que pode nos desviar de nosso foco principal, ao estarmos focados podemos deixar de dar atenção a estas pessoas em nossa rede. Neste caso, é importante definir que não estamos sugerindo não ter amizades "normais" ou casuais, pelo contrário, elas são essenciais em nossa vida e inclusive facilitam nosso desempenho profissional, seja por suporte emocional, lazer etc. Contudo, o foco aqui está em discutir o networking profissional/acadêmico, que se difere um pouco das amizades em nossa vida normal (também não quer dizer que amigos profissionais ou do meio de educação continuada não podem evoluir para amizades pessoais mais estreitas).

Dessa forma, a partir dessas reflexões, nessa relação justa e transparente entre as partes em um networking, sem interesses puramente em obter vantagem a si próprio, mas em um alinhamento entre dar e receber, podemos evoluir conhecimentos teóricos e práticos, alinhando um maior sucesso em nossa jornada. Assim, a cada passo que damos, poderemos ter pessoas que ao mesmo tempo nos assistem, torcendo por nós em nossa caminhada, e poderemos retribuir trazendo-as conosco ao passo que avançamos rumo ao sucesso.