O mercado de trabalho se encontra cada vez mais moderno e digital, sobretudo quando tratamos do tema “modalidades de trabalho” ou mesmo sobre o “uso de tecnologias digitais no mercado de trabalho”. Em especial dentro desse contexto, é interessante notar a recente mudança nas formas de trabalho com a popularização do trabalho remoto, o famoso “home office”.

Apesar de não ser uma prática totalmente nova, tendo em vista que diversas indústrias como a de tecnologia, principalmente, já utilizam esse modelo de teletrabalho já a algum tempo, o trabalho remoto tem ganho destaque no mercado principalmente após o período do coronavírus, entre 2019 e 2022.

Cerca de 40% das empresas adotaram algum modelo de teletrabalho ou trabalho remoto durante esse período1, com destaques para o setor de indústria e serviços que atingiu cerca de 70% das empresas do setor adotando modelos de home office2.

Após a pandemia, esse número de empresas e trabalhadores, embora tenha diminuído em algumas empresas e setores, apresentou aumentos significativos quando consideramos o mercado de trabalho como um todo. São cerca de 50% de aumento no trabalho remoto após o período do covid-193, atingindo cerca de 7 milhões de trabalhadores brasileiros operando em home office.

Considerando esse contexto, o foco deste artigo é apresentar uma breve reflexão sobre o trabalho remoto, principalmente sobre as suas vantagens e desvantagens, oportunidades e seus desafios. É importante destacar desde este início que essas são pautadas em grande parte pelas visões pessoais do autor, inclusive baseado em sua própria experiência. Discussões sobre os pontos aqui elencados, tanto em relação positiva ou negativa, com críticas e sugestões são mais que bem-vindas.

Iniciando com as vantagens, podemos destacar que a principal vantagem de se trabalhar em home office é a flexibilidade. Essa vantagem se traduz principalmente pela possibilidade de ter maior conforto ao se trabalhar em casa, ou mesmo poder trabalhar de algum outro local mais conveniente, como um hotel quando em viagem, um restaurante quando se aguarda por um cliente, ou outros locais sem depender de uma limitação geográfica ou espacial para que possamos exercer nossa função.

Além desta vantagem, podemos também citar a autonomia, tanto na escolha do próprio local de trabalho quanto na autogestão das suas atividades. Isso não significa que o trabalhador poderá fazer o que quiser em seu trabalho, isto é, as responsabilidades corporativas e as suas obrigações permanecem, contudo, a autonomia impõe um senso de autorresponsabilidade e até certo ponto de liberdade para que, por exemplo, o trabalhador possa acordar um pouco “mais tarde” (comparado com o tempo necessário para deslocamento no trabalho presencial), ou mesmo ter mais tempo com sua família (pois já se está em casa) após o trabalho. Além disso, a escolha pelos trabalhos e contratos, no caso de um trabalho remoto autônomo (ou freelance) é também algo que pode se enquadrar como uma vantagem do trabalho remoto.

Por fim nas vantagens, podemos ainda abordar a redução dos custos, tanto de tempo e dinheiro da parte do trabalhador, quanto da necessidade de infraestrutura por parte da empresa. Obviamente, neste segundo ponto, a empresa precisa fornecer equipamentos e apoio para que o trabalhador possa desenvolver sua função de maneira remota, sem prejuízos na sua produtividade, incluindo os treinamentos e qualificação técnica necessária para que o trabalhador possa se adequar a esse novo formato.

Seguindo, temos também algumas desvantagens do trabalho remoto. Apesar de sua flexibilidade, autonomia e liberdade, trabalhar remotamente também impõe algumas limitações. A primeira delas é a própria autorresponsabilidade e autogestão dos trabalhadores, que apesar de ser uma vantagem, quando não bem administrada pode ser algo muito prejudicial para os trabalhadores remotos.

Por exemplo, por mais “livre” que um trabalhador possa ser ao ter a oportunidade de atuar via home office, este ainda deve ser responsável, disciplinado e dedicado em sua função. Apesar de não ter um chefe consigo o tempo todo, o “fiscalizando”, essa função de supervisão se transfere ao próprio trabalhador. Apesar de parecer algo simples, resistir ao Whatsapp, Instagram ou mesmo ao sofá e a TV pode ser desafiador para alguns profissionais que tem mais facilidade a se distrair. É necessário cuidado ao atuar nessa modalidade para que não percamos produtividade ou mesmo tenhamos prejuízos junto às nossas lideranças.

Além disso, em alguns casos o trabalho remoto pode ser uma desvantagem quando do isolamento do colaborador. Certos perfis profissionais se sentem melhor quando estão rodeados de pessoas. Seja por um aspecto de “cobrança” (conforme citado na desvantagem anterior), ou mesmo por um aspecto de se relacionar com outras pessoas, trabalhar sozinho em casa por vezes pode ser algo prejudicial inclusive para a saúde mental dos trabalhadores. Não ver ninguém o dia todo, não falar o dia todo, perder o senso de rotina (já que se está em casa todos os dias), são alguns dos principais problemas enfrentados por alguns trabalhadores quando se está trabalhando em casa4.

Dentro desse contexto, podemos evidenciar que nem só de vantagens ou de desvantagens vive o home office. Apesar de ser muito benéfico para os trabalhadores, tornando suas rotinas mais flexíveis, autônomas, proporcionando maior liberdade e tranquilidade à suas funções, e reduzindo custos para as empresas, é necessário cuidado. As desvantagens, conforme vimos anteriormente, podem ser as próprias responsabilidades e a gestão do trabalho, que é mais centralizada no próprio colaborador, bem como nas relações entre lideranças e seus subordinados frente a metas corporativas, além do isolamento e do potencial risco à saúde emocional e mental dos trabalhadores (aqui incluindo também a saúde física, a ergonomia).

Logo, devemos ainda esclarecer que o trabalho remoto deve ser visualizado a partir do perfil dos trabalhadores. Pessoas com um perfil mais comunicativo, extrovertido, mais enérgicas e que tem a necessidade de se relacionar com pessoas podem ser mais adequadas ao trabalho presencial.

Do contrário, pessoas com um perfil mais introvertido, que são mais técnicas ou que preferem uma autogestão e a autonomia no seu trabalho, podem ser mais adequadas ao trabalho remoto. Isso devido ao seu enquadramento de perfil às vantagens e desvantagens citadas anteriormente.

É importante estabelecer que isso não é uma generalização, mas sim uma simplificação ou mesmo uma sugestão sobre eventuais melhores aplicações do trabalho remoto no nosso mercado.

Por exemplo, falando um pouco da minha experiência com o trabalho remoto, tenho atuado em um modelo “híbrido”, pois exerço funções em instituições que adotam um modelo presencial (por ser professor), e outras instituições no trabalho remoto (no meu caso, a maior parte das minhas atividades). Em minha vivência, me beneficio grandemente das vantagens de autonomia, flexibilidade e também de poder gerenciar melhor o meu tempo pós-trabalho, pois não “perco” tempo com transporte. Apesar disso, em certos momentos sinto falta de interações “frente-a-frente”, principalmente quando tenho dúvidas sobre alguma atividade ou trabalho, e também para trocar experiências com os profissionais da minha empresa.

Não existem apenas benefícios ou prejuízos, vantagens ou desvantagens. Logo, devemos também considerar que a forma pela qual visualizamos o trabalho remoto pode apresentar tanto prós quanto contras, isto é, oportunidades quanto desafios.

Em relação as oportunidades, por exemplo, podemos ampliar o nosso alcance profissional, tanto em relação à aspectos geográficos quanto em mercados diferentes. Por exemplo, uma pessoa que mora no Paraná pode prestar serviços para empresas de São Paulo ou mesmo para o exterior (assim como eu, o autor). Essas oportunidades podem ser aproveitadas tanto no trabalho em uma empresa “fixa” quanto em modalidades mais flexíveis de trabalho, como por exemplo através do empreendedorismo/prestação de serviços, o que amplia consideravelmente a possibilidade de se trabalhar com mais empresas e ter mais contatos, ampliando assim o alcance profissional.

Ao mesmo tempo, entrar nesse mercado de trabalho remoto pode apresentar desafios consideráveis. Não são todas as indústrias ou mesmo todos os cargos que se adequam a este modelo de trabalho. Por exemplo, atividades mais voltadas ao setor de varejo, atendimento ao público ou funções mais técnicas como as engenharias, frequentemente são voltadas ao modelo presencial devido as suas próprias características.

Ao mesmo tempo, saber se portar nesse modelo é desafiador por si só, sendo necessário aplicar e/ou desenvolver habilidades de autogerenciamento, responsabilidade e disciplina, além de eliminar distrações diárias e estabelecer limites com os familiares que estarão porventura em casa quando do período de trabalho do colaborador para evitar perdas de produtividade.

Como uma forma de equilibrar todos esses quatro pontos principais de reflexão deste artigo (vantagens, desvantagens, oportunidades e desafios), podemos pensar sobre alguns caminhos a seguir. O primeiro deles seria de fato refletir se seriamos produtivos em um ambiente de trabalho remoto, ao mesmo tempo que nos questionarmos se isso seria bom para nós em termos de saúde mental.

Em seguida, poderíamos refletir se nosso trabalho pode ser exercido com o mesmo empenho e qualidade do que em um ambiente profissional. Podemos ainda refletir sobre uma eventual mudança de emprego ou mesmo de mercado considerando as eventuais oportunidades e desafios do trabalho remoto. Por fim, poderíamos refletir sobre os próprios prós e contras do trabalho remoto de acordo com aquilo que temos no momento (nossa vida atual) e as perspectivas para o futuro (o que queremos para nossa carreira).

A partir dessas reflexões, conseguiremos então chegar nas respostas que são, sobretudo, pessoais e muito subjetivas ao contexto de cada indivíduo, para decidir sobre o home office ser beneficial ou prejudicial à nossa própria realidade, refinando nossas opiniões e julgamentos sobre o tema.

Falando sobre mim (o autor), em minha vivência pessoal, não trocaria o home office por um trabalho presencial. Prefiro a autonomia e flexibilidade à rotina e as cobranças presenciais. Isso, obviamente, tem muito a ver com minha carreira, experiências, perfil, objetivos etc.

Cada indivíduo/trabalhador terá as condições para avaliar a sua realidade e seus objetivos, assim decidindo melhor sobre suas opiniões finais acerca do teletrabalho.

De qualquer forma, essa reflexão sobre o home office é algo extremamente relevante devido a sua popularização e as suas tendências para o futuro. Grande parte dos colaboradores que experimentaram o home office pretendem continuar nesse modelo, o que aponta em uma tendência de crescimento futuro desse modelo5.

Portanto, conhecer mais sobre ele e seus prós e contras é algo totalmente necessário para que possamos nos preparar para ele, caso ele se torne uma realidade em nossa vivência profissional, e dessa forma, poderemos extrair ao máximo suas vantagens e diminuir seus potenciais desvantagens, nos tronando melhores profissionais e evoluindo nossa carreira.

E você, o que acha do modelo de trabalho home office?

Notas

1 Mello, Daniel. Home office foi adotado por 46% das empresas durante a pandemia. Agência Brasil, 2020.
2 Pacini, Stefano; Tobler, Rodolpho; Bittencourt, Viviane S. Tendências do home office no Brasil. FGV, 2023.
3 Vieceli, Leonardo. Número de pessoas que trabalham em casa cresce mais de 50% após a pandemia. Folha de São Paulo: 2023.
4 Bishop, Katie. Os possíveis prejuízos do trabalho remoto à saúde. BBC, 2022.
5 Harvard Business School. HBS online survey shows most professionals have excelled while working from home. HBS, 2021.