Diversas são as correntes teóricas que têm postulado, de uma ou outra maneira, que nossas ações são constantemente influenciadas por aquilo em que acreditamos sobre nós mesmos. Na educação não é diferente: inúmeros são os estudos que confirmam a relação entre êxito escolar e o modo como os estudantes se julgam quanto à própria inteligência e a capacidade para aprender, dentre diversas outras autocrenças.

Para compreender ainda mais como essa temática se configura nos contextos de aprendizagem, pesquisadoras1 analisaram as respostas de estudantes do 6º ano do ensino fundamental de escolas públicas. Uma amostra composta por 28 estudantes foi organizada em dois grupos de acordo com as notas obtidas em avaliações de português e matemática.

Estudantes cujas notas estavam acima da média foram classificados como grupo verde e os demais estudantes como grupo amarelo. Os dois grupos responderam por meio de questionários online perguntas sobre como se percebiam em relação à capacidade para se concentrar, à própria inteligência e sobre suas debilidades para aprender.

Os estudantes do grupo amarelo demonstraram percepções sobre a capacidade para se concentrar mais frágeis e uma visão quanto à própria inteligência mais negativa. Também foi observada uma tendência a atribuir suas debilidades escolares à falta de habilidades prévias e fixas, ou seja, esses estudantes acreditam que suas dificuldades estão relacionadas a habilidades que eles não possuem e que não podem desenvolvê-las. Ora, se esses estudantes acreditam que não podem desenvolver as habilidades necessárias, provavelmente irão repetir as mesmas ações de sempre, os mesmos erros, mantendo-se como estão.

Como imaginado, o grupo de estudantes azul demonstrou percepções sobre a própria inteligência e a capacidade para se concentrar mais fortes do que os estudantes do grupo amarelo. No entanto, apesar do grupo “azul” ter demonstrado percepções sobre a própria inteligência e sobre a capacidade para se concentrar mais positivas do que o grupo amarelo, também foi observada a presença de estudantes do grupo azul que se percebiam pouco inteligentes e mais ou menos capazes de se concentrar, mesmo tendo boas notas. A fragilidade das percepções constatada também com os estudantes do grupo azul surpreende e parece sugerir que seja necessário “olhar” para os estudantes como seres dinâmicos, cuja complexidade não se classifica em termos de notas escolares. Afinal, um estudante pode tirar nota nove constantemente e não se julgar inteligente ou capaz porque não consegue tirar 10, por exemplo.

Aqui entra a importância da escola, ambiente em que os estudantes passam boa parte de suas vidas, como espaço promotor de percepções. Isto porque, de acordo com a visão sócio-cognitivista, as pessoas se desenvolvem a partir das interações entre o ambiente, as características próprias dos indivíduos e seus comportamentos. Assim, a escola pode exercer um importante papel sobre o modo como os estudantes desenvolvem suas características cognitivas, seus pensamentos e autocrenças.

Cabe aqui comentar que as percepções sobre si mesmos são construídas ao longo da vida por meio das interpretações dos feedbacks recebidos em diversas situações vivenciadas. Soma-se a esse processo o modo como se interpreta a persuasão social que se recebe e o que se aprende a partir da observação sobre pessoas semelhantes a nós. Assim, as ações cotidianamente vivenciadas no ambiente escolar enviam mensagens aos estudantes sinalizando quais comportamentos são adequados a cada situação. A cultura escolar vivenciada possibilita a aprendizagem social. A pergunta que surge é: estaria a cultura escolar auxiliando os estudantes a construírem crenças e visões de si mesmos positivas?

Não é possível encontrar uma resposta final a esta questão. Tampouco generalizar as respostas do estudo aqui comentado. No entanto, sabe-se que se faz necessário ambientes escolares atentos aos estudantes e suas especificidades biopsicossociais. As práticas pedagógicas e ações cotidianas escolares deveriam sinalizar que as habilidades podem ser desenvolvidas, aspecto que contribuiria à construção de visões mais positivas sobre as crenças de capacidades e a visão de si mesmos.

Nesse sentido, é necessário pensar no papel da escola como uma instituição que olhe atentamente aos estudantes, suas fraquezas e fortalezas, liberando-se de estereótipos historicamente arraigados. É recomendado que professores e gestores escolares forneçam feedbacks adequados e personalizados a cada estudante, ação que possibilitaria a inclusão educativa à diversidade estudantil. Tal ação possibilitaria que as práticas acadêmicas e sociais fossem promovidas de maneira efetiva, garantindo o bem-estar necessário para que os estudantes possam desenvolver crenças de capacidades e visões sobre si mesmos positivas, as quais poderiam contribuir para o aprender acadêmico. Isso é um desafio às escolas; mas também às políticas públicas, de modo a oferecerem condições favoráveis para que os educadores possam atuar com menos estereótipos, valorizando as individualidades com as quais lidam diariamente.

Notas

1 O estudo completo foi publicado em: Casanova, Daniela Couto Guerreiro & Azzi, Roberta Gurgel. (2023). Percepciones de Estudiantes del Sexto Año sobre su Autoeficacia para Autorregular el Aprendizaje. Revista latinoamericana de educación inclusiva, 17(1), 77-92.