Para onde caminha a humanidade é uma indagação constante respondida de várias formas. Desde o caminhar para a morte ou para a glória ou para o fracasso, quando se considera apenas o resultado das ações, até se pensar como um processo, o caminhar como a construção do que é feito ou desfeito pelas sociedade humanas.

É inegável o que se pode considerar progresso, isto é, a ultrapassagem cotidiana de barreiras e de dificuldades. Desde a comprovação de que a terra é redonda e da invenção da roda, que as teorias e achados civilizatórios criam novas verdades no dia a dia: é o avião, o carro, a descoberta da estrutura genética, são os cyborgs, a inteligência artificial, tudo isso é ampliação das possibilidades e universos humanos. Progressivamente o homem se afirma como criador do universo, de si mesmo, de tudo que o rodeia e que o explica.

Esses movimentos dinamizam e descobrem cada vez mais o que é humano no homem, o que o humaniza e o que o mecaniza. Esse double-face sedutor e hipnotizador às vezes faz perder de vista a própria humanidade: há lacunas, há superposições que espantam e distorcem, principalmente quando ele se coloca a partir da posição de criador e criatura.

Criar aquele que cria, criando o criado, é uma constatação, via de regra, atordoante. Ser capaz de tudo para nada, salvo esse tudo esgotado no criar e fazer, é tedioso. Inevitáveis divisões, dualismos engessadores surgem e a unidade dividida jamais é recuperada, pois somar é apenas juntar, é um acrescentar operacional. Certas coisas quando se tenta dividir, destacar de sua individualidade, são destruídas nas suas características básicas, jamais podem ser recuperadas. É o artificialismo.

Somar, recuperar, unir é diferente de integrar. Na integração não existe soma, não existe acréscimo, pois os processos acontecem em estruturas, universos qualitativos, e não nos quantitativos. Pode-se juntar, somar, colar e acrescentar, mas para integrar é fundamental transformar um e outro, um pelo outro. Esses fenômenos qualitativos independem de injunção, acertos e correspondência. Equivalem à transformação da matéria no nível do fenômeno químico, no qual a integração surge do encontro e não da trituração homogeneizante. Pensemos, por exemplo, na magia da água, resultante do encontro das duas moléculas de hidrogênio com uma de oxigênio – H2O – isso é bem exemplificador das transformações que ocorrem no universo, e bem diferente das junções manipuladas e direcionadas aos objetivos de realização de nossos desejos e ambições. Essas manipulações são investidas em transformações arbitrárias, atingindo nosso jeito de estar no mundo, nossas possibilidades de encontro de maneira cada vez mais definitiva.

Contaminar e destruir mares, rios e florestas para retirada de matérias-primas como minerais, ouro, cádmio, água, plantas é o maior exemplo da depredação do ambiente, do que nos alimenta e que nos faz respirar, tornando inabitável o que era habitável. Com a desculpa da necessidade de ampliação de espaço, não passa de imediatismo oportunista, que caracteriza o estar com o outro pensando apenas em si mesmo. Egoísmo define essa atitude no nosso pequeno mundo, ignorância e ambição são os sustentáculos dessa ação em escala mais ampla.

Nesses parâmetros podemos dizer que a humanidade caminha para a descoberta de que não se existe sem o outro, sem o mundo que se habita, sem o chão que se pisa. Será uma descoberta desesperada, pois se levou tudo ao ponto de exaustão – é a queda da casa, ou como já dizia Davi Kopenawa “é a queda do céu”. Tudo será destruído, e talvez nem fique o registro, que poderia ser uma grande cartilha a permitir continuidade do ser no mundo. O cosmo cria caos e nele se encerra. Caos é o grande engolidor, buraco negro para alguns, ou a boca aberta da grande carência que não é aplacada enquanto não assumida e aceita como possibilidade terminal de processo. Alfa e Ômega de alfabetos a serem inventados, reescritos.