Adjetivo. Do latim adjectivus, formado pela preposição ad (ao lado) somada ao verbo jacere (lançar) e o sufixo ivus, próprio para palavras de natureza adjetiva, literalmente significa lançado ao lado. E mais especificamente: lançado, ou melhor, colocado ao lado do substantivo.
Essa definição de origem etimológica se justifica por sua natureza nominativa, tal qual ocorre com o substantivo, no latim.
Substantivo e adjetivo: nomes de mesma natureza gramatical
Dois exemplos podem ilustrar bem, se usados na língua materna do Português: homem forte e mulher bonita. Em português, os vocábulos homem e mulher designam as principais realidades: dois seres do sexo masculino e feminino, respectivamente, que possuem características físicas e biológicas totalmente diferentes.
Porém há o que se diz deles: forte e bonita. Essas são duas realidades que não podem ser consideradas obrigatórias, funcionando como um acidente daqueles dois nomes. A submissão do adjetivo ao substantivo ocorre caso utilizemos estes no plural: homens e mulheres. Assim, tais características precisarão acompanhar a flexão dos nomes, variando também no plural: fortes e bonitas.
Tal regra já era prevista no latim: vir fortis e mulier pulchra. Caso as palavras vir (homem) e mulier (mulher) se flexionem no plural, os adjetivos também deverão acompanhá-los em gênero, número e caso. Portanto, a mudança ocorreria para vires fortes e mulieres pulchræ. Assim, dependendo da função sintática que o substantivo realizasse, o adjetivo o acompanharia em sua flexão.
Portanto, é fundamental entender essa conexão entre essas duas categorias gramaticais que se intercambiam em suas funções, uma vez que o substantivo pode realizar função adjetiva, como por exemplo, em menina-moça, no qual a palavra moça é um caracterizador de menina ou mesmo quando o adjetivo exerce uma função substantiva. Um exemplo disso há em frases como “Quem ama o feio bonito lhe parece”, em que feio funciona como substantivo.
Tipos de adjetivo
O adjetivo, como aponta Bechara (2009: 143), possui uma função delimitadora do substantivo; no entanto, essas funções podem ser divididas em três: explicação, especialização e especificação.
Os explicadores destacam e acentuam uma características inerente do nomeado ou denotado. Os especializadores marcam os limites extensivos ou intensivos pelos quais se considera o determinado, sem isolá-lo bem opô-lo a outros determináveis capazes de caber na mesma denominação. Os especificadores restringem as possibilidades de referência de um signo, ajuntando-lhe notas que não são inerentes a seu significado. (BECHARA, 2009, 143).
À frente, o gramático dá alguns exemplos de cada tipo citado. Como exemplo de explicadores, vasto oceano, líquidas lágrimas, que são características próprias daquelas substâncias.
Entre os especializadores, poder-se-iam relacionar as seguintes expressões: a vida inteira, o sol matutino, o céu austral, o homem pensante. Nesses casos, tais características limitam aquelas substâncias em um aspecto, pois pode-se falar de uma parte da vida, do sol vespertino, do céu setentrional ou do homem irracional.
Por sua vez, os especificadores funcionam como realmente um acidente do substantivo, pois não são uma propriedade obrigatória daquele ser. Ex: folha de papel, quadro negro, árbitro de futebol. Repare que esses seres podem ser especificados por outras palavras como amarela, branco e de basquete, respectivamente. E mesmo assim fariam sentido.
Portanto, não há apenas um tipo de adjetivo e suas funções mostram o quanto são importantes para que se possa delimitar corretamente o substantivo.
Funções adjetivas na gramática
A função de acrescentar algo ao substantivo, seja esta uma característica intrínseca dele ou não se dá também com outras classes gramaticais variáveis. São elas: pronomes, artigos e numerais.
Para que isso se torne claro, é importante ressaltar um conceito sintático: o de adjunto adnominal. Todo termo (ou sintagma), seja ele verbal ou nominal, possui um núcleo e, no caso dos nominais, é o substantivo. Caso haja um referenciador deste e ele esteja a seu lado, salvo nos casos de apostos como Rio Amazonas, cidade de São Paulo, entre outras, sua função é adjunto adnominal; ou seja, ele é um auxiliador do nome.
Um bom exemplo
Em uma frase como a que inicia o Hino Nacional Brasileiro, é possível perceber claramente essa distinção. “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heroico um brado retumbante”.
Nesse caso, há um sintagma verbal (ouviram) e dois nominais (as margens plácidas do Ipiranga, um brado retumbante de um povo heroico).
Ao se analisar friamente, percebem-se dois principais substantivos: margens e brado. Todas as demais palavras exercem uma função adjetiva, ou seja, acrescentam algo a esses substantivos. O artigo as define como já conhecidas; plácidas por sua vez, mostram a calmaria das margens; a locução adjetiva do Ipiranga, especifica ainda mais essas margens.
No caso do objeto direto um brado retumbante de um povo heroico, há dois numerais cardinais (um), dois adjetivos (retumbante e heroico) e um substantivo (povo), que aliado à preposição de exerce uma função adjetiva de restringir o brado retumbante. Em ambos os termos se percebe que a função exercida por eles é de adjunto adnominal.
A mesma função de adjunto adnominal pode ser exercida por uma oração, como pode ser visto em “O homem que trabalha faz a terra produzir”, como pode ser visto na música Bendito seja Deus, Pai. A oração marcada possui valor de adjunto adnominal, uma vez que ela delimita a palavra homem, tal qual faz um adjetivo.
Portanto, estudar o adjetivo é buscar entender como se delimitar o substantivo de forma a mostrá-lo da forma mais clara, a fim de que o interlocutor possa ter clareza, seja no conceito que lhe está sendo ensinado, seja na visão que lhe é suscitada. Abrir mão do aprendizado dessa categoria gramatical é simplesmente desprezar a beleza do ser e da existência das coisas, pois, sem ele, jamais conheceríamos a verdade de cada coisa em si, jamais poderíamos saber as diferenças entre.