As nossas canetas já duram anos, pois estão presas ao trabalho de assinatura. Os documentos são escritos no digital e assinados em manuscrito. Será este um facto da sobreposição da escrita criativa à eletrónica? Ou, temos um problema generalizado em grafar e, como as assinaturas e rúbricas não precisam ser entendidas, por isso homens usaram 100% do cérebro para cobrir a dificuldade artística global?
A arte de escrever vai-se esmerando no uso da comunicação verbal. Os longos e atrativos textos, as belas mensagens de teor afável, melódico e melancólico vai-se reduzindo a textos figurativos – imagens e expressões ilustrativas.
A língua vai-se devolvendo à linguagem e a práxis social, virada ao visto, ao facilmente lembrado e ao facilmente observado e descodificado, sob a premissa de que "o que os olhos não veem, o coração não sente", que se vai afirmando dia após dia.
As estruturas eletrónicas (de longo alcance), diferente da escrita (de baixo alcance) têm aguçado o desinteresse generalizado pela escrita criativa, tanto que para se escrever um livro, artigo ou texto de vária ordem, já não o fazemos segurando uma caneta (ou lápis) e grafar no papel. Dispensamos o uso de tantos materiais e à exigência da “beleza” na grafia para que entendamos e nos entendam (quando formos partilhar) e ficamos pela rapidez da escrita eletrónica, facilitando a vida para a sua disseminação em praça comum/mundial (redes sociais), até mesmo porque as editoras já não simpatizam com os trabalhos manuscritos (rsrsrs).
Hoje por hoje um texto social-eletrónico, sem confirmar ou refutar o que a escrita diz, por meio de imagens ou áudio, já sabe à pouco, ou, até mesmo, a quase nada. Já chamamos antiquados quem sorri com '(risos)', dispensando as figurinhas. Uma abordagem explicativa e/ou de constatação é e deve ser ou estar apoiada a alguma imagem. As situações, sem comprovativo constatável já não valem muito, pese embora, ainda assim, se difunda muitas fake news.
Entretanto, a imagem tem servido como elemento de continuidade da escrita, porém vai tomando contornos de superioridade, pois podemos falar apenas por figurinhas ou stickers, durante muito tempo. Falar só por textos, sem figuras, já se considera um atentando à evolução. Alguém até, poderá, além de antiquados, chamar-nos analfabetos funcionais - termo que alguém definiu como aquele que embora domine alguma ciência, não a sabe atualizar, sobretudo conjugá-la às TIC's…
Estará o texto reservado apenas à última secção do exame de Português - Redação? Quantos de nós já não tem essa realidade (estudantil)? Onde praticar tais exercícios?
Será a internet um dos atentados à escrita?
O tempo é dinheiro e a vontade de sermos todos práticos - encontrar soluções em tempo recorde - retira-nos a obrigação de juntar papel e caneta, de estar confortável para escrever e também a de estar muito mais focado para pensar.
Estaremos a estender o ensino da escrita para lá dos professores-especialistas, juntando à atividade aqueles que se acham capazes? Quem mais nos vai ensinar a escrever se o que mais se pede são especializações técnicas? Estamos lembrados do facto de que mais facilmente “falamos bem se escrevermos bem e muito dificilmente o inverso?” Ademais, de que “a avaliação ao conhecimento da língua é, muito mais, considerado pela escrita e não pela fala”?
E se o jornalismo for a nossa solução de aprendizagem e continuação do processo começado pelos professores?
Primeiro, temos jornalistas capazes?
Segundo, e mais importante que isso, gostamos de ler? Obviamente a maioria não, mas por quê?
Uma das regras para o gosto da leitura é ler conteúdos do nosso interesse e, então, surge a pergunta: o nosso jornalismo é interessante ou interesseiro?
E a nós, o que interessa? Quase nada, senão o nosso capricho. Que contra-senso!
Fazemos um apelo a uma tarefa que parece, infelizmente, só parece mesmo fácil, pois é uma atividade bastante complexa e não nos propusemos a apresentar fórmulas mágicas, pois "escrever é uma atividade complexa, resultante de diferentes fatores externos como o a alfabetização, instrução, leitura contínua, prática da (própria) escrita e outros.
Dos talentos, certamente, Deus já cuidou, a nós caberá o disponibilizar do contributo e da vontade do bem escrever, tornando-o uma qualidade entre nós, dando vazão ao bem falar. Porém a persistência e a entrega de cada escritor-leitor será o ponto de partida para uma viagem bem conseguida.