A região da América Latina tem sido marcada por décadas de turbulência política, com uma história complexa e multifacetada de instabilidade. Desde o período de colonização, passando pelas lutas pela independência no século XIX e chegando até os desafios políticos e sociais mais recentes, como protestos populares, golpes de Estado e conflitos armados, os países da América Latina têm vivenciado uma série de crises políticas que moldaram seu destino político, social e econômico.

Majoritariamente os países da América Latina foram explorados em virtude da corrida colonial que existia entre Espanha e Portugal, tendo vista que entre os séculos XV e XVI a disputa por terras que estavam fora do continente europeu foram colonizadas por países como Reino Unido, Espanha, Portugal, França e Holanda durante o período das Grandes Navegações. Os países da América Latina tiveram uma colonização exploratória, isto é, somente forneciam riquezas naturais e produtos tropicais como ouro, cana de açúcar, pedras preciosas, café, borracha, madeira, entre outros.

A colonização da América como um todo teve diferentes rumos, enquanto países mais ao norte (Anglo-saxônica) tiveram uma colonização mais voltada para o povoamento dessas regiões para a construção e desenvolvimento. A colonização da América Central e América do Sul que tiveram esse caráter mais exploratório desencadearam uma série de problemas e como resultado a América Latina sofreu um grande atraso socioeconômico que reverbera até os dias atuais.

O que se esperava após as primeiras independências que começaram ser proclamadas na América Latina o ciclo exploratório e a escravidão fossem erradicados, porém em alguns países esses ciclos se encerraram tardiamente. As primeiras independências da América Latina foram puxadas pela independência do Haiti em 1804, logo em seguida veio a Argentina em 1810, Paraguai em 1811, Chile em 1818 e o Brasil em 1822. Durante todo o século XIX foram declaradas independências de outros países da América Latina, sendo as últimas independências da Colômbia em 1886, Cuba em 1898 e Panamá em 1903.

Durante algumas independências, conflitos armados e revoluções são relevantes, a Revolução Haitiana contra o Império Francês e o regime escravagista até a sua independência em 1804 em meio a Revolução Francesa, trouxe uma série de desdobramentos dentro e fora do Haiti. conflitos armados espalhados pela América Central e a Guerra da Cisplatina em 1825 entre Império do Brasil, Argentina e Uruguai e outros conflitos armados e guerras civis que voltaram a ocorrer na América do Sul durante o século XIX e XX.

Por algum tempo, enquanto os países começavam a se desenvolver no pós-colonialismo, algumas dinâmicas políticas e eventos históricos contribuíram para que a região fosse ainda mais instável, principalmente na dinâmica em que o sistema internacional apresentou durante a primeira metade do século XX. Os países da América Latina já estavam lidando com o atraso econômico, político e social desde suas independências, enfrentando os problemas relacionados ao legado do colonialismo, a concentração de poder por elites locais, a implementação de estruturas econômicas para o benefício das ex-colônias, a dependência da exportação de produtos primários e a desigualdade social contribuiu para o cenário de instabilidade durante todo o século XIX.

A industrialização da América Latina chegou tardiamente, o que não permitiu com que houvesse uma transformação rápida nos meios de produção, assim a economia se desenvolvia lentamente. Nas primeiras décadas do século XX, a América Latina começou a se encaminhar bem, havia uma certa instabilidade em governos que estavam começando a ser formados na América Central e nos últimos países a conquistarem suas independências.

A primeira guerra mundial trouxe uma série de consequências e mudanças na ordem internacional, na América Latina essas consequências resultaram no aumento de exportações, consequentemente num crescimento econômico. Porém houve mudanças políticas e sociais onde os protestos e greves se iniciaram pela melhora das condições de trabalho e custo de vida que se tornou mais caro em algumas regiões, essas mudanças aumentaram parcialmente a instabilidade política em alguns países.

No período entreguerras destaca-se a instabilidade política no México após a Revolução Mexicana entre 1910-1920, algumas guerras civis que se desenrolaram ao longo desse período, as crises e grupos insurgentes elevaram os níveis de instabilidade política em pontos da América do Sul e Central. A Crise de 1929 desestabilizou fortemente algumas economias latinas, o que elevou ainda mais a instabilidade política, social e econômica, fazendo com que as demandas globais por commodities latinas diminuíssem, levando a uma queda nos preços e nas exportações.

Durante a Segunda Guerra Mundial, houve uma recuperação nas exportações, puxando a economia de alguns países para cima, porém a instabilidade política instaurada em governos da América Central começou a ter novos desdobramentos. As intervenções dos EUA começaram a ser frequentes nos países latino-americanos, onde se iniciaram as primeiras tentativas de golpes de Estados.

Porém foi durante a Guerra Fria onde se viu o número das tentativas de golpes militares se ressaltar e começarem a influir em toda América Latina. Com a ordem internacional enfraquecida e o mundo bipolarizado em duas ideologias e as regiões continentais passaram a ser vistas como zonas de influências, assim os golpes militares vieram como repressão ao comunismo e algumas ditaduras militares começaram a ser instituídas ao decorrer do que a Guerra Fria refletia.

Os golpes se iniciaram na Guatemala e no Paraguai em 1954, seguindo pelo golpe no Brasil em 1964, Chile em 1972, Argentina que ao longo de todo esse período já havia experimentado inúmeras tentativas de golpes, mas o de 1976 foi um dos mais intensos da história. Outros países passaram por guerras civis ou revoluções, como a Revolução Sandinista na Nicarágua e a Guerra Civil na Guatemala. Vale ressaltar a Guerra que ocorreu entre Honduras e El Salvador em 1970.

Trazendo essa discussão para os dias atuais, após 2000 houve uma ascensão de governos com um viés de esquerda e políticas liberais, reforçando a cooperação mútua e uma política externa mais ativa, porém alguns governos como os da Venezuela de Hugo Chávez e Nicolás Maduro e da Nicarágua de Daniel Ortega adotaram um governo mais repressivos e se perpetuaram no poder.

Recentemente houve uma Onda Conservadora na América Latina, onde governos conservadores retornaram ao poder no Brasil, Chile, Uruguai, Paraguai, Argentina, Haiti, Costa Rica, México e outros, porém não houve continuidade por desaprovação da população de alguns países. Por fim, houve alguns levantes de revoluções no Chile e algumas tentativas de golpes de Estado no Peru, Bolívia, Colômbia e outros.

Nesta discussão, temos em vista que os períodos estáveis na política latina são escassos e algumas problemáticas internas influem no movimento político como um todo tanto da América do Sul e da América Central. Algumas problemáticas são herdadas da exploração acentuada da colonização e outras são atrasos e má governação. Há os problemas humanitários e a pobreza que os países latino-americanos enfrentam, além da má gestão e escândalos de corrupção que sempre reverberam nestes países.