Quando éramos jovens, ouvíamos repetidamente a frase clichê de nossos pais: estude, pois você é o futuro da nação. Essas palavras ressoam em nossas memórias, mas nos levam a um questionamento intrigante: será que a escola como é hoje tem a capacidade de vislumbrar esse futuro ao qual somos destinados?

A resposta, de forma simples e impactante, é um contundente não. A verdade é que a Humanidade é incapaz de predizer com exatidão o que o futuro nos reserva. Porém, o mais preocupante é constatar que nosso sistema educacional, em sua essência, está mais voltado para o passado do que para o futuro.

Para compreendermos por que o sistema educacional está mais focado no passado, é necessário fazer uma breve contextualização. A educação formal em massa surgiu como uma demanda da sociedade moderna durante a revolução industrial. Antes desse período, o acesso à educação era um privilégio restrito a uma elite composta por nobres, membros da realeza e aristocracia.

A necessidade de instruir as pessoas que migravam para os centros urbanos era clara: prepará-las para desempenhar funções como mão-de-obra nas fábricas e indústrias emergentes. Nesse contexto, a abordagem educacional adotada era imediatista, voltada para o conteúdo e a técnica. O objetivo era capacitar os indivíduos provenientes de áreas rurais a seguir ordens e executar tarefas específicas, muitas vezes limitadas a atividades repetitivas, como apertar parafusos.

Essa ênfase na preparação para o trabalho industrial deixou uma marca profunda na estrutura e nos métodos educacionais que persistem até os dias atuais. No entanto, à medida que avançamos para uma era cada vez mais complexa e em constante evolução, torna-se crucial questionar essa abordagem tradicional e buscar um novo modelo educacional capaz de atender às demandas e desafios do futuro. É tempo de romper com as amarras do passado e abrir caminho para uma educação que estimule o pensamento crítico, a colaboração, a criatividade e a comunicação, habilidades essenciais para enfrentar os desafios do mundo atual e por vir.

É decepcionante constatar que esse modelo de educação pouco evoluiu ao longo dos últimos 250 anos. Nossas práticas e abordagens nas escolas em 2023 ainda refletem os preceitos do século XIX. Faça uma breve pesquisa no Google por "Escola século XIX" e perceba como os resultados são frustrantes. As salas de aula continuam idênticas, com alunos enfileirados, voltados para o quadro, e o professor ocupando o centro do poder da transferência do conhecimento, enquanto as feições dos alunos denotam um certo receio e medo.

A recente crise global da pandemia de COVID-19 gerou movimentos disruptivos nas escolas, sacudindo as estruturas e lançando a tão falada transformação digital na educação.

Mas será que evoluímos tudo que podemos evoluir como sistema de educação?

Para responder essa perguntar, primeiramente devemos evitar uma ilusão perigosa: não reduzir o futuro da educação ao simples fato de nossos filhos terem acesso a aulas remotas1 e munidos de dispositivos tecnológicos de última geração.

Para moldar o verdadeiro futuro da educação, precisamos romper com os modelos tradicionais que remontam à revolução industrial. Uma base totalmente nova é necessária, em que as habilidades sejam valorizadas e priorizadas acima do mero acúmulo de conhecimento. Nessa abordagem, os 4 Cs: pensamento crítico, colaboração, criatividade e comunicação assumem o centro do palco, deslocando o foco das habilidades técnicas e do conteúdo para o desenvolvimento da capacidade de resolver problemas e adaptação a diversas situações (resiliência).

Além disso, é notável que o futuro do trabalho está mudando de forma vertiginosa e acelerada. Estudos revelam que até 2030, cerca de 85% das profissões ainda não existem oficialmente, enquanto metade das profissões atuais desaparecerão. Nossos filhos, diante dessa realidade, provavelmente terão não apenas uma, mas várias carreiras ao longo da vida, dada a velocidade das mudanças. Portanto, é crucial que as escolas preparem os alunos para lidarem com esse cenário complexo e volátil, cultivando uma mentalidade de desaprender para reaprender com agilidade, o que permitirá a eles prosperarem seja qual for o contexto.

Quando renovarmos essas bases do sistema educacional voltados para esses objetivos, poderemos afirmar que estamos trilhando o caminho rumo a uma educação do futuro. Mas, essa transformação não se encerra aí, pois a educação ideal do porvir demanda uma sensibilidade aguçada às tendências e uma velocidade ágil diante das mudanças. Para tanto, é necessário criar um sistema autocrítico, centrado no feedback perene e com poder descentralizado.

Também é primordial encurtar os ciclos de mudança da educação, tornando-os mais frequentes e menos demorados. Não podemos esperar séculos para perceber que a educação está defasada, como ocorre atualmente. Caso contrário, a educação do futuro estará sempre no passado.

Notas

1 Vale lembrar no entanto que muitos estudantes no Brasil foram excluídos dessa transformação devido à falta de acesso à internet. Essa realidade nos lembra que o futuro da educação ainda não é universal nem democrático, abandonando aqueles que mais precisam dessa oportunidade.