Temos o hábito de acreditar que o design e a configuração do que vemos no nosso dia a dia não tem muito além do que nos é apresentado literalmente, mas, na grande maioria das vezes antes do design ser design ele tem uma funcionalidade e a estética aparece em segundo plano. O exemplo que divido com vocês hoje é simples, talvez subestimado e atualmente já é um detalhe banal, no entanto tenho certeza de que será uma grande descoberta!
Era o século XVII e os marinheiros desbravaram constantemente o terror dos mares e tinham de desbravar também o balanço incessante dos navios e as dimensões minúsculas das cabines que lhes eram de direito: esse combo obrigatório fazia com que os marinheiros batessem suas cabeças quase o tempo todo, o que terminou por ocasionar um número de lesões bastante preocupante. Então, para driblar esse desafio, os marinheiros franceses adotaram um recurso muito interessante, nada mais nada menos do que pompons! Lembra daquela clássica touca de inverno com um adereço logo acima da cabeça? Foi daí que ela surgiu.
Inicialmente, os próprios marinheiros confeccionavam seus pompons da maneira como queriam e com os recursos aos quais tinham acesso, mas, em 1858, esse adereço ganhou uma regulamentação própria e decidiu-se que não seria mais tão simples assim. A precursora dessas leis foi a marinha francesa, que decretou que todos os pompons dos marinheiros franceses deveriam ser obrigatoriamente tingidos de vermelho. Foi a partir disso que os pompons se transformaram em referência e em um importante fator de diferenciação no exército, separando as tropas pela cor e formato de seus pompons.
No entanto, a curiosidade vai além e é importante ressaltar que esse adereço estava também presente bem longe dos campos de batalha. Na região da Floresta Negra, no sudoeste da Alemanha, as mulheres usavam pompons nos seus chapéus, em uma tradição que começou no ano de 1750, a partir do qual as mulheres dessa região deveriam usar chapéus com quatorze pompons cada, confeccionados no topo. A cor dos pompons era determinante para o status social: vermelhos para as mulheres solteiras e pretos para as mulheres casadas. O nome desse acessório? Bollenhut.
A história não acaba aí. Em 1930, durante a grande depressão, A história dos pompons não para por aí. Durante a Grande Depressão, na década de 1930, eles se tornaram uma verdadeira febre: em um cenário onde o poder de compra era praticamente negativo, os pompons tiveram mais uma vez o papel da diferenciação, sendo eles os itens mais acessíveis para compor os visuais. Mas, ainda mais atrás no tempo, esse acessório também era um grande aliado dos guerreiros vikings, inclusive com uma infinidade de relatos de deuses que tinham em sua imagem chapéus dotados desses adornos macios, ainda representados nos dias atuais em algumas regiões da Escandinávia.
Hoje em dia, os pompons são geralmente vistos como elementos estéticos, sem uma função prática evidente na maioria, mas é impossível negar o quão interessante é a sua origem e presença ao longo da história e, ainda, como um detalhe tão pequeno foi capaz de transpor as barreiras de territórios, leis e hábitos
Como eles, muito do que foi banalizado na nossa atualidade teve um dia um fundamento de grande importância e eram também, praticamente imperativos na vida rotineira. Quando pensamos em invenções que mudaram o mundo, geralmente somos levados a considerar as grandes realizações tecnológicas e industriais. No entanto, é revelador e inspirador descobrir como objetos aparentemente simples como pompons, também tiveram impactos significativos na história da humanidade. Essas pequenas peças do quebra-cabeça da nossa trajetória humana são testemunhas silenciosas de como algo aparentemente trivial pode ter um papel gigantesco ao longo do tempo e por vezes ainda no presente. Cada objeto, por mais insignificante que pareça, carrega consigo uma história única e valiosa, que merece ser explorada. Da fechadura à meia calça, todos mudaram o mundo, mas, esse pedaço de história vou deixar para uma próxima vez!