A Galeria Nara Roesler | São Paulo inaugura no dia 8 de junho uma nova mostra do artista recifense Marcelo Silveira, com curadoria de Daniel Rangel. Intitulada Compacto Mundo das Coisas, a exposição apresenta cinco séries de obras, unidas por afinidades estéticas, conceituais e processuais em que o artista se apropria do "mundo das coisas" para realizar desenhos, esculturas e instalações através de cartões postais, pedaços de cadeiras, plásticos e livros.
Com o olhar sempre atento, é na cidade de Recife que Marcelo Silveira busca pela maior parte da matéria-prima de seus trabalhos, elegendo objetos e materiais que, segundo o curador da mostra, vão "gradativamente abandonando o repouso inútil do descarte que sofreram e passam a provocar o artista."
Postais centenários encontrados pelo artista em um brechó, dão origem à série Irene, nome que remete não só à música homônima de Caetano Veloso, mas também à destinatária dos postais, que os recebeu em três endereços em Recife, entre as décadas de 1910 e 1920: na Rua da Alegria, Rua da Glória e Rua do Aragão. Estes endereços hoje, segundo o artista, "são ruas que a cidade esqueceu".
E é através do questionamento de como dar relevância à lembrança destes lugares, que o artista desenvolve a série, intervindo com caneta esferográfica sobre os postais ou com carimbos sobre os seus versos. Juntos e envoltos em uma espécie de moldura, os postais dão origem à paisagens fictícias ou ainda, podem remeter à um revestimento arquitetônico.
Feita a partir de pedaços de cadeiras, a série Compacto com pacto tem como intenção fazer com que o visitante identifique as possibilidades do objeto no espaço e a disputa espacial entre a peça e quem se movimenta ao seu redor. O que antes era cadeira, agora volta ao espaço ocupando-o com uma movimentação gráfica, de linhas que se entrelaçam, se conversam e se interrompem.
Segundo o artista, a série fala da necessidade de se estabelecer pactos. “O que me motivou na criação desta obra foi o pacto, a possibilidade de a gente estabelecer diálogos e construir algo que não se faz sozinho”, explica Marcelo.
A instalação Camaleão é uma obra composta por pedaços de papel colorido, mais precisamente, as embalagens das réguas utilizadas pelo artista na produção da série Caleidoscópio. Unidos, os recortes lembram uma pintura quando uma projeção de luzes incide sobre ele. A estabilidade da 'pintura' é rompida quando a cor de uma luz projeta-se sobre uma cor diferente, transformando-se em outra cor. O trabalho permite refletir sobre a ilusão que se tem sobre coisas e seres e sua impermanência.
A exposição traz também trabalhos das séries O Desenho da Casa, Modernas e Muito pelo contrário, em que o artista, em uma operação de aproximação, intervém com desenhos simples diretamente sobre as páginas de livros doados pela Casa do Desenho, em Porto Alegre, após seu fechamento. "A imaginação do espectador é ativada pelos títulos e nomes visíveis, alguns conhecidos, outros não. A maioria dos grupos é formada por pequenas coleções, de livros afins ou enciclopédias e dicionários. O procedimento investigativo e o ato de colecionar são recorrentes na produção do artista", acrescenta Daniel Rangel.
Acumaé, segundo o artista, é uma expressão simples e regional, para se perguntar o preço das coisas e dá nome também à série de objetos sonoros em madeira freijó que foram pensados pelo artista para estabelecer costuras e criar um projeto maior que vai além da peça de madeira em si. Durante a abertura, o artista e o curador da mostra, Daniel Rangel, irão promover uma espécie de cortejo pela galeria, embalado pela fusão de sons de intensidades diferentes, gerados através de batidas com as mãos nos objetos sonoros e do canto entoado pelos participantes do cortejo.
Com uma diversidade de técnicas e dinâmicas, Marcelo Silveira convida o público a adentrar este espaço de ressignificação do tempo e das coisas e ainda, nas palavras do curador, "nos oferece sua sensibilidade como chave para questionarmos nossa relação com os objetos e com as pessoas que nos cercam."