A Galeria Leme tem o prazer de apresentar a primeira individual de Vivian Caccuri em São Paulo. Sob o título de “Condomínio”, a artista, que há três anos organiza mensalmente a performance “Caminhada Silenciosa” – uma expedição urbana organizada para que 20 pessoas permaneçam por oito horas em voto de silêncio enquanto derivam por diferentes lugares da cidade – apresentará esculturas, instalações e desenhos.
Em “Condomínio”, a artista mostra quatro diferentes séries de trabalhos inéditos , fazendo uso da tecnologia, como nas séries “Adeus” e “Bias” para refletir sobre a permeabilidade – muitas vezes cerceada – entre espaço público e espaço privado. A escultura “Adeus”, um minisoundsystem do começo dos anos 2000, foi modificado em parceria com engenheiros para que sintonizasse diversas rádios simultaneamente e reagisse à circulação dos visitantes no espaço expositivo. Em “Bias”, a artista coletou centenas de retratos de transeuntes no centro do Rio de Janeiro para subverter uma das primeiras tecnologias de reconhecimento facial, chamada “Eigenface”. Este sistema, que cria uma espécie de “impressão digital” a partir de diferentes fotografias do rosto de uma pessoa, foi usado para compor uma mancha fantasmagórica das cem pessoas fotografadas na rua. A partir da imagem digital, a artista produziu desenhos em carvão sob papel.
A série “Pagode” é uma espécie de tapeçaria às avessas, onde membranas protetoras de obras da construção civil, como telas de sinalização e cobertura de fachadas, são desfiadas e transformadas em grandes desenhos geométricos. Suas pontas são soltas e sustentam cacos de vidro ou barras de alumínio, o que lhe dá movimento e som quando movimentadas pelo observador. Outra obra que pode ser manipulada na exposição é a série “My Mistake”, composta a partir de chaves descartadas por chaveiros da região central de São Paulo por erros na gravação do segredo ou por não abrirem as novas fechaduras. As chaves são penduradas diretamente nas paredes de concreto formando desenhos baseados em gráficos de pesquisas econômicas e de opinião. As chaves, quando tocadas pelo público, produzem um som agudo e brilhante no espaço da galeria.
Os materiais, formas, lugares e dinâmicas de “Condomínio” fazem parte da pesquisa do trabalho “Caminhada Silenciosa”. Enquanto a artista pesquisa os locais para a deriva em silêncio, encontra pessoas, objetos e situações que tornam-se cumulativamente elementos para projetos como os dessa exposição. Assim, como já acontece com as caminhadas, “Condomínio” reorienta a presença física do visitante, refletindo sobre o papel da intimidade e da integração das diferenças (ou a exclusão das duas) na constituição do espaço público: estaria o mundo material brasileiro sob um processo de condominização?
Vivian Caccuri (1986, São Paulo)
Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Seu trabalho cria relações entre fenômenos sonoros, o espaço
público, sistemas de privacidade e identificação, a voz e a imaginação por meio de performances,
objetos, desenhos e instalações. Na Universidade de Princeton escreveu o livro “O que Faço é
Música” (2012), publicado pela editora 7Letras e premiado Prêmio Funarte de Produção Crítica em
Música em 2013. Foi contemplada com o Prêmio Sérgio Motta em 2011, Prêmio Rumos Itaú Cultural
em 2008. Suas principais exposições incluem o 33o Panorama de Arte Brasileira do MAMSP, VERBO
2012 e 2013 na Galeria Vermelho, Brasil ArteMúsica no Zacheta National Gallery de Varsóvia,
Polônia e TRO-PI-CAL no Akershus Center em Oslo, Noruega.
Caminhada Silenciosa
A caminhada silenciosa é um itinerário urbano de oito horas de duração para um grupo de quinze pessoas organizado pela artista Vivian Caccuri. O trajeto é feito sob voto de silêncio e leva os participantes a visitar locais com atividade acústica especial e atividades que possam ser observadas. Construções que abrigam sons contrastantes, problemas acústicos, terraços, bairros isolados, arquivos e espaços religiosos são exemplos de locais pelos quais o grupo percorre. Ao longo do dia, o silêncio e a mudança constante de ambientes estimulam a atenção dos participantes para perceber e incorporar relações entre arquitetura, privacidade, propriedade e intimidade. Ao fim do trajeto, o grupo volta a falar por meio de um jantar especialmente preparado para o projeto durante o qual os participantes trocam suas impressões e ouvem as vozes dos demais pela primeira vez. O projeto já visitou locais de raro acesso como o heliponto e sala presidencial do BNDES do Rio de Janeiro, o claustro do Mosteiro de São Bento em São Paulo, o porão do MAM Rio, a famosa sala de concertos “Finlandia” em Helsinki que abriu especialmente para o grupo, entre muitos outros. Com mais de vinte edições realizadas, o projeto já foi organizado em cidades como Rio de Janeiro, Niterói, Valparaíso (Chile), Riga (Letônia), Helsinki (Finlândia) e São Paulo e já foi desenvolvida em situações de residência como o CAPACETE no Rio (2012), Pivô em São Paulo (2014) e Sound Development City (2014) nos países bálticos.